A população da vila de Macomia, em Cabo Delgado (Moçambique), “está sob uma tensão muito forte”, alerta uma religiosa que está em missão naquela região e que pede para não ser identificada, por motivos de segurança. Numa mensagem enviada esta semana à fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), a religiosa explica que “muitas aldeias dos arredores [de Macomia] foram atacadas”, e que está a ocorrer uma nova onda de violência. “Há o rapto sistemático de pessoas que se encontram nas aldeias e nas machambas, principalmente mulheres e mães com as suas próprias crianças”, refere a irmã.

Informações reunidas pela fundação AIS dão conta da existência de grupos armados que atacam aldeias, incendeiam habitações, raptam e matam. Em declarações à organização pontifícia, Eduardo Paixão, missionário brasileiro do Sagrado Coração, atual responsável pela área missionária de Meluco, na diocese de Pemba, disse que está a ocorrer uma intensificação de violência após uma fase de abrandamento. “Dias 30 e 31 de dezembro começaram os ataques à aldeia de Nangololo, de Imbada, e depois [a violência] foi-se alastrando durante a primeira semana do ano de 2022 pelas aldeias de Mariri, que é vizinha de Muària, e que tinha uma grande escola, a maior escola do distrito de Meluco”.

De acordo com o sacerdote, “a aldeia de Mariri foi atacada, queimaram casas, e na semana seguinte houve mais ataques nas aldeias em direção ao distrito de Meluco. Foram cinco aldeias ao todo naquele distrito, que eu tenha conhecimento”. Existe a informação de ataques recentes nos arredores da vila sede do distrito de Macomia. Desde que os atos de violência em Cabo Delgado iniciaram, em outubro de 2017, foram mortas mais de três mil pessoas. A violência gerou cerca de 800 mil deslocados internos.