Família deslocada em Palma, província de Cabo Delgado, Moçambique. As crianças representam cerca de 40 por cento do total de pessoas deslocadas no mundo inteiro | Foto © PMAGrant Lee Neuenburg

Mais de 61 mil crianças foram obrigadas a fugir das suas casas em vários distritos da província de Cabo Delgado (Moçambique) devido à onda de violência que tem assolado a região nos últimos dois meses. Este é o maior número de crianças forçadas a abandonar as suas casas, em tão pouco tempo, alerta a organização internacional Save the Children, apelando ao fim imediato deste conflito para que as crianças possam viver uma vida pacífica e regressar à escola.

“Vários casos de confrontos violentos entre grupos armados e forças de segurança foram relatados nos distritos de Macomia, Chiure, Mecufi, Metuge, Mocímboa da Praia, Quissanga, Muidumbe e Ibo, numa violência renovada em toda a província nortenha, forçando mais de 99.313 pessoas – incluindo mais de 61.492 crianças – a fugirem das suas casas entre 22 de dezembro e 3 de março”, indica a organização de defesa dos direitos das crianças.

Na sequência desta nova onda de violência, mais de 100 escolas fecharam em seis distritos de Cabo Delgado, deixando cerca de 71 mil crianças sem acesso ao ensino. “Há crianças que já têm sete anos e que desejam ir à escola pela primeira vez este ano, mas que agora fogem para salvar as suas vidas. Estas crianças nunca conheceram a vida sem guerra e, infelizmente, pertencem a uma geração crescente de crianças cuja infância se tornou difícil”, afirma o diretor nacional da Save the Children em Moçambique, Brechtje van Lith, citado num comunicado da organização.

A Save the Children, com a ajuda de algumas instituições parceiras, está a procurar reintegrar as crianças nas escolas das comunidades anfitriãs, garantindo ao mesmo tempo a distribuição de materiais escolares aos alunos e professores. Em algumas comunidades, foram erguidas tendas para proporcionar espaços temporários de aprendizagem e são oferecidos serviços de apoio psicossocial às crianças e aos seus cuidadores, e também identificados menores desacompanhados e separados dos seus familiares para que estes possam ser localizados e o reagrupamento familiar facilitado.

A organização e a maioria dos seus colaboradores enfrentam, no entanto, “sérias dificuldades no acesso a financiamento adequado para responder às necessidades humanitárias existentes”.

O maior número de crianças deslocadas da história

As crianças deslocadas de Cabo Delgado estão entre os mais de 50 milhões de crianças a abandonar as suas casas devido a vários fatores, sobretudo os conflitos e as alterações climáticas. Trata-se do maior número da história, o qual corresponde a mais do dobro do que se registava em 2010, revelou a Save the Children no passado mês de fevereiro. As crianças representam cerca de 40 por cento do total de pessoas deslocadas no mundo inteiro, e o seu número tem aumentado a um ritmo ainda mais rápido do que no caso dos adultos.

“Embora as estatísticas sejam esmagadoras, uma criança deslocada não é apenas um número. É uma criança que provavelmente testemunhou o tipo de violência ou destruição que nenhuma criança deveria ver, antes de ter que deixar para trás tudo o que conhece. Quando as crianças perdem as suas casas, perdem quase tudo: o acesso aos cuidados de saúde, à educação, à alimentação e à segurança”, sublinha Gabriella Waaijman, diretora humanitária global da Save the Children.

E acrescenta: “Precisamos de agir urgentemente e manter os direitos das crianças – que são as menos responsáveis ​​pelos conflitos e pelas emergências climáticas que as desenraizam – no centro das nossas respostas à deslocação”.

Texto redigido por 7Margens, ao abrigo de uma parceria com a Fátima Missionária