Cardeal Jaime Spengler no encontro com os jornalistas, no Santuário de Fátima, a 12 de maio de 2025 | Foto: Santuário de Fátima

A curiosidade dos jornalistas sobre a forma como decorreu o conclave colocou Jaime Spengler, um cardeal brasileiro e presidente das celebrações da peregrinação de maio em Fátima, a falar sobre como foram vividos os últimos dias no Vaticano. Uma das características destacadas pelo cardeal brasileiro durante a conferência de imprensa de apresentação da peregrinação de maio que decorreu na tarde desta segunda-feira, 12, diz respeito à diversidade dos cardeais eleitores.

“Hoje o colégio dos cardeais é composto, se não me engano, por homens provenientes de cerca de 70 nações diferentes. O Papa Francisco, realmente, internacionalizou o colégio de cardeais. A Igreja Católica não é mais Itália, não é mais Europa. Nesse sentido, o Papa Francisco procurou, ao longo do seu ministério, caracterizar todas as regiões onde o catolicismo está presente”, explicou o cardeal Spengler, que também abordou a forma como decorreram os dias anteriores ao conclave.

“Antes do conclave propriamente dito, nós tivemos as congregações gerais. Ali estavam os cardeais votantes e aqueles que já não votam porque superaram o limite de idade. E todos tinham a oportunidade de expressar o que estavam a viver e, ao mesmo tempo, quais eram as expetativas para o futuro”, referiu Jaime Spengler, arcebispo metropolita de Porto Alegre. O momento em que elegeram o novo Papa está ainda bem presente na sua memória.

“Quando, na contagem, naquela quarta sessão da votação, alguém disse ‘Prevost’, era o voto número 89. Era o número limite, os dois terços dos votantes. Foi impressionante. Alguém começou a bater palmas e, dentro da Capela Sistina, aquilo ecoou. Aos poucos, todos se levantaram, e ele sentado. Não posso dizer isso com certeza, mas imagino que ele entrou no conclave sem imaginar que pudesse vir a ser eleito, até porque nas fofocas dos vaticanistas, ele não era um dos nomes que estava a ser dos mais cotados, mas foi muito bonito o resultado ali, daquela votação”, disse o cardeal brasileiro, que por diversas vezes arrancou sorrisos aos jornalistas com o seu sentido de humor.

O nome escolhido pelo novo Papa foi surpreendente, até para quem é um cardeal. “O nome que ele escolheu, acho que é muito significativo. Eu não conheço ninguém com o nome Leão, assusta um pouco até”, disse. No entanto, “a explicação que ele deu do nome, creio que é muito bonita”. “Ele mesmo explicou que o nome é uma referência à situação do trabalho hoje no mundo, fazendo memória de Leão XIII que, por assim dizer, foi o primeiro na história que sistematizou aquilo que nós hoje compreendemos como Doutrina Social da Igreja. Temos o célebre documento, a Rerum Novarum, que na época foi um documento extraordinário. Lembremos a crise que estava a viver a sociedade com a industrialização e a situação do trabalho pelo mundo fora. Foi um texto que ficou e que ainda hoje continua a ter valência, quando nós tratamos a questão do trabalho.”

Quando questionado pela FÁTIMA MISSIONÁRIA/7Margens sobre se os apelos que o Papa Francisco fez na exortação Querida Amazónia já deram frutos, particularmente no que diz respeito a um maior protagonismo dos leigos nas comunidades e ao surgimento de novos serviços e espaços para as mulheres, o cardeal Spengler disse que não saber a resposta, mas destacou o papel das mulheres. “Eu faço sempre uma observação… O que seria das nossas comunidades sem as mulheres? O que seria dos processos de iniciação à vida cristã sem a presença feminina? O que seria das nossas paróquias, pelo menos falando da realidade brasileira, sem as ministras da Eucaristia, e etc. Como seria a coordenação das comunidades? Que coisa extraordinária. Nós temos paróquias onde quem conduz a paróquia são religiosas. As mulheres, pelo menos neste contexto, certamente, têm um lugar especial”, afirmou o também presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).