Maurício Miranda (E), primeiro secretário da aldeia, e Mariana Abedi (D), chefe da localidade, mostram a destruição provocada por grupo armado que a 04 de junho invadiu Naunde, no distrito de Macomia, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, 15 de junho de 2018. A parte central de Naunde é hoje um tapete de uma ponta à outra da aldeia, de pedras e barro cinzento, estilhaçado, misturado com cinzas de colmo e estacas de madeira, chão que ainda cheira a queimado. (ACOMPANHA TEXTO DE 23 DE JUNHO DE 2018). ANTÓNIO SILVA/LUSA

O número de deslocados internos em Moçambique representa atualmente 1,4 por cento da população, muito por culpa dos ataques armados na província de Cabo Delgado, que fez aumentar em cerca de 2.700 por cento a quantidade de pessoas que se viram obrigadas a abandonar as suas terras por causa da violência.

Segundo um relatório da organização não governamental Centro de Integridade Pública (CIP), citado pela agência Lusa, no final de 2018, em todo o país “havia cerca de 15.000 pessoas deslocadas internamente pelos conflitos armados em Cabo Delgado e na região centro”, mas hoje esse número ultrapassa os 424 mil.

A ONG moçambicana revela que só 4,6 por cento dos agregados familiares em fuga se encontram em centros de acolhimento, ou seja, a maioria dos afetados pela crise humanitária vivem “em agregados que os acolhem, na maioria dos casos sem o mínimo de condições básicas para garantir a sua sobrevivência”.

Perante este cenário, é pedido ao governo central a criação urgente “de centros de acolhimento para os deslocados que vivam em casas de familiares e amigos e receber com o mínimo de dignidade os deslocados que continuam a chegar das regiões sob ataque em Cabo Delgado”.

O conflito armado em Cabo Delgado dura há três anos, tendo provocado já entre 1.000 e 2.000 mortos. Alguns dos ataques da insurgência têm sido reivindicados desde junho de 2019 pelo grupo jihadista Estado Islâmico, mas a verdadeira origem da violência continua a ser investigada.

A semana passada, a diplomacia da União Europeia (UE) garantiu estar a “acompanhar de forma próxima” a onda de violência em Cabo Delgado, indicando que nos “próximos diálogos políticos” com o governo moçambicano irá propor um plano de ajuda a disponibilizar.