Um Papa missionário
Foi com surpresa e profunda tristeza que, na missão moçambicana de Boroma, fundada pelos jesuítas no final do século XIX, recebi a notícia do regresso do Papa à casa do Pai. Francisco era um grande amigo de Moçambique, que visitou em 2019. A onda de afeto despertada pela figura de Francisco uniu todos os moçambicanos. Ele deixou-nos uma mensagem de paz, reconciliação e de solidariedade para com as vítimas moçambicanas das catástrofes naturais e da insurreição terrorista em Cabo Delgado. Francisco foi um Papa missionário, que me inspirou no meu trabalho pastoral, procurando fazer desta Igreja local, onde os Missionários da Consolata chegaram há 100 anos, uma Igreja ‘em saída’, missionária, com as portas abertas a todos. Sou grato a Francisco pelo seu exemplo e palavras transformadoras. Ele convidou a viver a fé na alegria, e a ‘sair’ sem medo de abraçar a todos. Preocupava-se com os mais esquecidos, pequenos e necessitados, na consciência de que somos todos irmãos e irmãs. Denunciou de forma vigorosa e incansável uma “economia que mata”, os tantos conflitos que constituem a “terceira guerra mundial travada aos bocados”, assim como os pecados da própria Igreja – os abusos sexuais, de poder e económicos. Obrigado, Francisco.
Diamantino Antunes, bispo de Tete, em Moçambique
O primeiro Papa na Mongólia
Será necessário tempo para compreender plenamente o alcance do pontificado de Francisco. Vi nele encarnada uma profunda paternidade, que experimentei em diversas ocasiões. Para nós, Missionários da Consolata, o Papa Francisco é o Pontífice que canonizou José Allamano, o nosso fundador, e que deu um enorme impulso missionário à vida e às escolhas da Igreja. Com o seu ensinamento e exemplo, Francisco colocou a missão evangelizadora da Igreja de volta ao centro da vida concreta das comunidades. Francisco será certamente recordado na história da Mongólia, por ser o primeiro pontífice a visitar o país, mas também pela coragem dos seus discursos proféticos sobre o valor da fraternidade, e o compromisso com a justiça, a paz e a harmonia da criação. Francisco conseguiu falar ao coração de todos. Temos muito a aprender e a aplicar nas nossas vidas como servidores do Evangelho.
Giorgio Marengo, prefeito apostólico de Ulaanbaatar, na Mongólia
Cuidar uns dos outros
Depois de Francisco ser eleito bispo de Roma, eu, que era bispo na África do Sul, pensei escrever-lhe. O núncio apostólico garantiu-me que a carta lhe chegaria a ele. Cerca de um mês depois, recebi uma resposta dele escrita à mão. Nunca esperei que o fizesse. Quando o Papa foi ao Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, pediu para organizar um evento para os que chegavam da Argentina. Como sou argentino, convidaram-me. Quando o Papa chegou à catedral, os bispos argentinos saudaram-no. Apresentei-me, sem esperar que ele se lembrasse de mim. Ele disse-me: “Recebeu a minha carta?” Foi impressionante. No meio de tudo o que se passava à sua volta, como poderia lembrar-se? Acredito que, enquanto bispos do Botswana, Essuatíni e África do Sul, nunca esqueceremos as duas visitas ‘ad limina’ que tivemos com ele. Nunca esqueceremos a primeira, que foi um espaço aberto para conversarmos sobre qualquer assunto. Ainda me lembro de um bispo dizer: “Esperei 20 anos por um momento como este.” O segundo encontro ficou marcado pelo cancelamento. O Papa estava no hospital após uma cirurgia. No dia em que teve alta, estávamos à entrada da sua residência. No momento em que regressava do hospital viu-me e perguntou se estávamos ali para a visita ‘ad limina’ e eu disse: “O encontro foi cancelado. Estavas no hospital, mas és o Papa e… é imprevisível.” Cumprimentou os outros bispos e disse: “Digam aos bispos que nos podemos encontrar depois do almoço.” Ninguém esperava que um homem de 86 anos arranjasse tempo para nós depois de uma cirurgia… Francisco chamou-nos a cuidar uns dos outros, a valorizar o dom de cada um e, para nós, bispos, mostrou como somos chamados a cuidar daqueles que nos foram confiados.
José Luis Ponce de León, bispo de Manzini, em eSwatini