Neste memorial, estão registados os nomes de 842 vítimas da Inquisição nascidas na cidade do Porto | Foto © Museu Judaico do Porto

O Museu Judaico do Porto recebeu na última quinta-feira, 21 de março, um milhar de alunos de escolas de todo o país, que com esta visita de estudo assinalaram o Dia Nacional da Memória das Vítimas da Inquisição. A iniciativa antecipou a data oficial da efeméride, 31 de março, que este ano coincide com o domingo de Páscoa católica.

Os alunos conheceram as diversas salas dedicadas à história dos judeus no mundo e em Portugal, detendo-se sobretudo na relativa ao período inquisitorial e na sala de cinema, onde puderam ver algumas das cenas mais marcantes do filme 1618, sobre a inquisição no Porto, o filme português mais internacionalmente premiado de sempre.

Entre outros objetos de valor e simbolismo, estão em exibição neste museu a réplica de uma carroça-prisão do tempo da Inquisição e o famoso livro do século XVII Sentinela Contra os Judeus, que afirma que estes têm uma cauda. O objeto mais destacado é um memorial, com quatro metros de largura e dois de altura, colocado na parte exterior do museu, onde estão registados os nomes de 842 vítimas nascidas na cidade do Porto.

O diretor do Museu Judaico do Porto, Michael Rothwell, lembra que a Inquisição portuguesa esteve ativa entre 1536 e 1821. “Foram quase três séculos em que se proibiu uma crença religiosa ou qualquer aparência com ela. Não houve na história da Humanidade, em continente algum, uma perseguição tão sistemática e duradoura devido a uma causa tão inocente”, sublinha, citado num comunicado enviado ao 7Margens.

O Museu Judaico do Porto, inaugurado em junho de 2019, está aberto para as visitas de escolas e para a comunidade judaica nacional e internacional, mas apenas abre portas para o público em geral no Dia Europeu da Cultura Judaica, que ocorre no primeiro domingo do mês de setembro de cada ano.

“O museu nunca abriu ao público porque o Estado não garantiu o policiamento do recinto, antes declarou que o policiamento não seria necessário, mesmo se fosse pago pela Comunidade. Numa Europa de fronteiras abertas onde os judeus são um alvo, decidimos não abrir ao público, pois cedo ou tarde haveria um atentado”, justifica Michael Rothwell.

A par do Museu Judaico, a Comunidade Judaica do Porto possui também um museu do Holocausto, que foi inaugurado em dezembro de 2020. “No museu do Holocausto, recebemos cerca de 150 mil adolescentes de escolas de Portugal nos últimos três anos, o que corresponde a cerca de 15 por cento da população adolescente do país”, estima Rothwell. “Os museus complementam-se admiravelmente. O Museu do Holocausto centra-se no século XX, ao passo que o museu judaico retrata a presença dos judeus em Portugal desde os primórdios até ao século XXI”.

Texto redigido por 7Margens, ao abrigo de uma parceria com a Fátima Missionária