Sílvia Machado defende que as crianças precisam de ser ouvidas, e de sentirem que fazem parte do processo que diz respeito à sua educação | Foto: DR

Existem 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que definem as aspirações globais para 2030. O quarto ODS diz respeito a uma educação de qualidade. Neste contexto, a Ad Gentes – Associação Leigos Missionários da Consolata, foi ao encontro de Sílvia Machado. Nascida em Portugal há 32 anos, Sílvia foi viver para o Bairro do Zambujal em 1997. Cresceu e estudou nas escolas do bairro até frequentar o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde se licenciou em Sociologia. Atualmente é responsável pelas Atividades de Tempos Livres da Santa Casa da Misericórdia da Amadora.

Sente que há barreiras para uma educação de qualidade no Bairro do Zambujal?
No bairro existem muitas condições que não são as ideais para uma educação de qualidade. Há muitos casos de carências económicas e de famílias disfuncionais. Embora já se tenha mais consciência que o lugar da criança é na escola, não é feito o devido acompanhamento. Acho que tem sido feito um esforço nesse sentido, através da maior ligação entre as escolas, as famílias e as instituições no bairro. A comunidade cigana talvez tenha mais dificuldade. Há muitas crianças que não frequentam a escola ou frequentam porque é obrigatório mas sem sentido de responsabilidade. É preciso envolver as famílias e relembrar a importância da educação.

Acha que há alguma diferença no acesso à educação entre rapazes e raparigas do bairro?
Não tenho perceção que haja muitas diferenças neste aspeto. Temos casos em que as meninas engravidam muito cedo e desistem da escola, mas também de rapazes que deixam de ir à escola para ir trabalhar.

Que iniciativas são necessárias para incentivar os jovens a continuarem os estudos?
Acho que faz todo o sentido que haja um trabalho entre família, escola e instituições. A criança precisa de ser ouvida e de sentir que faz parte do processo. Fazer um curso na faculdade não pode ser uma opção já descartada de início, tem de ser encarada como uma possibilidade.

O que sonha para o futuro das crianças do bairro?
Espero que continuem a brincar na rua sem medo, que façam amigos de todas as etnias e religiões, e que saibam que esta é a aldeia que as vai ajudar a crescer. Estão a crescer numa comunidade incrível, que tem tanto para ensinar.

Texto: Mário Linhares