Ex-Comissão Independente era coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e integrava o psiquiatra Daniel Sampaio, assim como o antigo ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e a cineasta Catarina Vasconcelos | Foto: Manuel de Almeida/Lusa

O relatório final da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal foi apresentado esta segunda-feira, 13 de fevereiro. A CI validou 512 testemunhos, num total de 564 recebidos, referentes a casos que tiveram lugar entre 1950 e 2022.

Segundo Pedro Strecht, coordenador da CI, os testemunhos apresentados de janeiro a outubro de 2022, apontam para uma rede de vítimas “muito mais extensa”, calculada num “número mínimo, absolutamente mínimo, de 4.815 vítimas”. “Não é possível quantificar o número total de crimes”, uma vez que algumas vítimas foram abusadas diversas vezes, referiu o pedopsiquiatra numa conferência de imprensa que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, citado pela agência Ecclesia.

A média de idades atual das vítimas é de 52 anos, correspondendo 20,2 por cento da amostra a pessoas com menos de 40 anos de idade. Os testemunhos provêm de pessoas residentes em Portugal e emigrantes, com predomínio de vítimas de sexo masculino (52 por cento). Há casos em todos os distritos, sendo que se destacam cinco – Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria.

Os casos narrados decorreram, principalmente, em “seminários, colégios internos e instituições de acolhimento, confessionários, sacristia e casas dos padres”, incluindo, acampamentos e atividades ao ar livre, mais recentemente. Vinte e três por cento dos casos aconteceram em seminários, 18,8 por cento em igrejas, 14,3 por cento em confessionários, 12,9 por cento em casas paroquiais e 6,9 por cento em escolas católicas. Partindo do testemunho de familiares e de análise de informação divulgada pela imprensa, a CI registou sete casos em que as vítimas cometeram suicídio.

O número total de abusadores não foi revelado, tendo a CI registado que 96 por cento são do sexo masculino e 77 por cento eram padres no momento dos atos, com predomínio dos “abusos continuados”. Os alegados abusadores que ainda estão vivos serão identificados, através de uma listagem que será enviada à Igreja Católica e à Justiça, até final deste mês.