Foto: EPA / Simela Pantzartzi

A abertura de um novo centro para requerentes de asilo em Zervou, na ilha grega de Samos, um local que é “totalmente remoto” e onde foram gastos “milhões de euros” e instaladas “cercas de arame farpado de nível militar e sistemas avançados de vigilância”, está a provocar uma grande angústia e desespero entre os refugiados que vivem naquela região, alertam os Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Segundo a organização humanitária, a abertura deste espaço, neste mês de setembro, representa para os refugiados “um fim para o sentido da vida, para a sua paciência, para qualquer liberdade rudimentar que tinham”. A existência deste espaço representa para aquelas pessoas “o fim de qualquer oportunidade de participar em atividades ‘normais’, como passear na praia ou na praça com os filhos, ou no supermercado da cidade”, referem os MSF.

Perante a existência deste espaço, os Médicos Sem Fronteiras referem que têm “vergonha da Europa e dos valores que afirma ter, que não parecem aplicar-se” aos seus pacientes em Samos. “Quão fácil seria mudar esta narrativa e dar um novo sentido à vida de centenas de pessoas que procuram proteção internacional na Europa se houvesse vontade política e respeito pela dignidade humana?”, questiona a organização humanitária.

Os Médicos Sem Fronteiras afirmam que os seus psicólogos “todos os dias” ouvem “caminhos pessoais únicos”, que os fazem “admirar a resiliência” daquelas pessoas. Perante os dramas que encontram, estes profissionais procuram fornecer às vítimas “um espaço seguro, permitir que se apoiem em alguém e partilhem os seus medos e ansiedades sobre o que já aconteceu, e o que o futuro reserva”.

No entanto, “enquanto se repetirem os mesmos erros e as mesmas políticas que geraram este sofrimento”, os Médicos Sem Fronteiras consideram que não podem “realmente ajudar essas pessoas”. “Vamos apenas ficar aqui e continuar a ensinar os nossos pacientes a sobreviver. Não para viver ou para fechar as suas feridas, apenas para sobreviver”, lamentam.

A organização humanitária afirma que para “poder ajudar eficazmente” os seus pacientes, “a Europa e a Grécia devem primeiro garantir alternativas dignas aos acampamentos, permitir o acesso a um procedimento de asilo justo e digno e garantir cuidados de saúde adequados e adaptados às necessidades das pessoas que fogem da violência, do conflito e dos traumas”.