Ilustração: David Oliveira

Quem ama a causa missionária ficará feliz em conhecer Aquiles Da Rós, sacerdote e etnólogo, pastor de almas e estudioso de povos e culturas. Nasceu em Treviso, no norte de Itália, em 1937. Aos 12 anos entrou no seminário, levando consigo uma recomendação do pároco, informando que já no jardim de infância Aquiles dizia: “Quando for grande quero ser padre”. E assim foi.

Conseguida a licenciatura em Missiologia, dedicou os primeiros anos do seu sacerdócio ao ensinamento, à colaboração na imprensa missionária e ao serviço pastoral. Desejava ardentemente partir para as missões, mas os médicos, por duas vezes, aconselharam a que esperasse. Partiu em 1982 para trabalhar entre as tribos nómadas do norte do Quénia. Foram 16 anos de intensa atividade pastoral e cultural numa zona árida e inóspita, onde a sua fraca saúde acabou por ser seriamente afetada. Quem o conheceu nesses anos recorda bem a sua total dedicação. Afirmava sem rodeios que quando outros dedicavam oito horas por dia ao trabalho manual, ele, como sacerdote e missionário, sentia o dever de dedicar pelo menos oito horas diárias a Deus – o “grande chefe” – como ele lhe chamava.

Apesar das limitações que a saúde lhe impunha, os superiores confiavam-lhe cargos cada vez mais exigentes, especialmente na direção de um Centro de Formação para Catequistas e no Secretariado Diocesano da Catequese. Entre as várias publicações de que o padre Aquiles foi autor durante esses anos destacam-se as duas obras – “Nós os Turkanas” e “Provérbios Samburus” – sobre a vida e hábitos das duas tribos com as quais lidou mais de perto.

É digno de nota o facto de ele se mostrar sempre disposto a aceitar toda e qualquer decisão dos superiores. Por exemplo, durante umas férias para observações médicas em Itália, recebeu do superior uma carta em que lhe comunicava uma nova destinação e imediatamente respondeu – “Tudo o que foi decidido a meu respeito está bem decidido. Ao voltar cumprirei o que me escreveu”.

O padre Aquiles era um missionário apaixonado, competente e lúcido, mas também um bocadinho áspero e severo. Perdia-se de alegria no meio das crianças com as quais brincava e divertia-se como um menino, fazendo jus à definição que um dia ele próprio tinha dado de si mesmo: “Sou um urso com um coração de criança!”

Chegado o momento em que a sua saúde já não lhe permitia a vida no campo de missão aceitou com serenidade a vontade de Deus e regressou a Itália onde ainda trabalhou por algum tempo, “até à última gota das suas energias”, como atesta um seu confrade. Faleceu em Turim, com 72 anos de idade, e foi sepultado na sua terra natal.

Texto: Tobias Oliveira