A democracia em todo o mundo enfraqueceu, com a liberdade de imprensa a sofrer a sua “queda mais abrangente” em 50 anos. Eis uma das principais conclusões do mais recente relatório do Instituto Internacional para a Democracia e Participação Eleitoral (IDEA, na sigla inglesa) – sedeado em Estocolmo – divulgado esta quinta-feira, 11 de setembro.
De acordo com o estudo, a liberdade de imprensa caiu em um quarto dos 173 países analisados entre 2019 e 2024, uma queda que afetou todas as regiões, impactando 15 países africanos e 15 europeus (incluindo Portugal), bem como seis países nas Américas e na Ásia e Pacífico. Trata-se do declínio mais abrangente desde que o IDEA iniciou os seus registos, em 1975.
Afeganistão, Burkina Faso e Myanmar foram os países onde se registaram os declínios mais significativos. Na Europa, “um em cada três países experimentou um declínio na liberdade de imprensa”, destacando-se os Estados “onde as liberdades civis foram impactadas negativamente” pela invasão russa da Ucrânia: Bielorrússia, Ucrânia e Rússia.
O estudo evidencia ainda o caso da Palestina, onde desde outubro de 2023 quase 200 jornalistas foram mortos. “O tratamento da Al Jazeera fornece um exemplo do ambiente para os média na região”: entre 2024 e 2025, a Al Jazeera foi alvo de Israel e da Autoridade Palestina, que suspenderam as operações do meio de comunicação devido a supostas preocupações com a segurança nacional e tensões sobre sua cobertura de certos eventos (International IDEA 2024z).
Mas o relatório divulgado esta quinta-feira em Estocolmo também destaca o declínio da liberdade de imprensa “nos Estados-membros da União Europeia”, dando o exemplo da Itália, cujas “agências de inteligência usaram spyware contra ativistas dos direitos dos migrantes e jornalistas”.
Apenas doze países em todas as regiões apresentaram avanços significativos na liberdade de imprensa (comparando as pontuações de 2024 com as de 2019). A maioria deles ocorreu nas Américas (Bolívia, Brasil, República Dominicana e Honduras) e na Europa (Bulgária, República Checa, Montenegro e Polónia). Apenas um país na África apresentou melhorias (a Zâmbia), e houve ainda dois na Ásia e Pacífico (Fiji e Sri Lanka) e um na Ásia Ocidental (Síria).
Aproximadamente um em cada cinco países também registou declínios nos índices de Liberdade de Expressão (22% dos países), Igualdade Económica (21%, incluindo Portugal) e Acesso à Justiça (20%, incluindo também Portugal). África e Europa foram responsáveis pelas maiores parcelas de declínios.
Relativamente aos Estados Unidos da América, o IDEA enfatiza que o período da análise termina em dezembro de 2024, pelo que não abrange os primeiros meses após o regresso de Donald Trump à Casa Branca, em janeiro passado. No entanto, o secretário-geral da instituição assinalou durante a apresentação do relatório: “Alguns dos acontecimentos que vimos durante as eleições no final de 2024 e no início de 2025 são bastante perturbadores: considerando que o que está a acontecer nos Estados Unidos tem a capacidade de se tornar global, isso não é um bom presságio para a democracia global”.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.








