O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa é comemorado este sábado, dia 3 de maio. No entanto, esta não é apenas uma liberdade dos jornalistas e dos órgãos de comunicação social. Já em junho de 2000, a propósito do Jubileu dos Jornalistas, o Vaticano publicou o documento “Ética nas comunicações sociais” em que alertava para o facto de a ética da comunicação não dizer apenas respeito aos profissionais da informação. Numa altura em que se calcula existirem cerca de 8 mil milhões de internautas no mundo, a qualidade da informação e da comunicação passou a ser um dever de todos.
Os utilizadores de informação têm o dever de aprender a ver, ouvir e ler, com sentido crítico e discernimento, as informações que lhes chegam através dos meios de comunicação social, dizia então o documento do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, liderado por John P. Foley.
Se há uma alteração importante desde que este documento foi redigido, há 24 anos, ela tem a ver com o facto de muitos daqueles que, no século XX, tinham uma função incontornável de mediação da comunicação e da informação terem perdido esse papel. Com efeito, se, até então, uma informação ainda necessitava de passar por jornalistas e comunicadores profissionais para adquirir uma dimensão pública, hoje os cidadãos têm ao seu dispor meios técnicos que lhes permitem, individual ou coletivamente, comunicar com o público em geral, sem terem de passar pelo filtro dos órgãos de comunicação social. Essa situação fez com que, hoje, possamos ser, individualmente, mais emissores do que recetores de mensagens, uma situação ímpar na história da humanidade.
Cidadania mediática e cidadania política
Com as democracias e o jornalismo moderno, o princípio da verdade e o da objetividade constituíram-se
como ideais norteadores da qualidade da informação, pelos quais julgamos os ‘media’ e os comunicadores públicos. A qualidade da informação é um instrumento fundamental para os cidadãos se informarem sobre o seu quotidiano, escolherem os seus líderes e construírem sociedades mais justas, inclusivas e participativas. Também por isso se distingue a liberdade de imprensa da liberdade de expressão. Uma não existe sem a outra. Mas se a liberdade de imprensa está mais associada à função de os profissionais coletarem, selecionarem, tratarem e distribuírem a informação, a liberdade de expressão refere-se mais especificamente à liberdade de os cidadãos falarem e divulgarem as suas opiniões e ideias.
Com a internet, os ‘media’ sociais e a revolução que a Inteligência Artificial se prepara para introduzir nas nossas sociedades, é necessário criarmos uma cidadania mediática como condição para exercermos também uma cidadania política que nos coloque ao abrigo das manipulações no nosso quotidiano e nos salvaguarde de sociedades que não queremos e não desejamos para as gerações futuras. Em 2000, talvez o documento do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais precisasse de ser melhor explicado quando se referia aos deveres de cada cidadão para com a informação e aos perigos para as sociedades contemporâneas, caso isso não sucedesse. Mas, hoje, será que ainda é necessário dar exemplos?