No campus da Universidade de San Diego, perto da fronteira dos Estados Unidos com o México, virada para o oceano Pacífico, está uma nova escultura que pretende dar as boas-vindas a migrantes e refugiados. Foi inaugurada na última semana pelo bispo de San Diego, Michael Pham, ele próprio um migrante que fugiu do Vietname em 1980.
Trata-se de “Angels Unawares” (em português, “Anjos Sem Saber”), uma escultura de bronze de 2,4 metros de altura, do artista Timothy Schmalz, que retrata 140 migrantes de diferentes origens a bordo de um barco, com um par de asas de anjo entre eles. Entre os migrantes representados, incluem-se José, Maria e o menino Jesus que fogem para o Egito, escravos africanos em busca da liberdade, ou um judeu a escapar da Alemanha nazi. Esta é uma versão em escala reduzida da obra que pode ser vista na Praça de São Pedro, em Roma, encomendada pelo Papa Francisco em 2019 [ver 7Margens].
A obra inspira-se num versículo da Carta aos Hebreus, com o seguinte pedido: “Não vos esqueçais da hospitalidade, pois graças a ela alguns, sem o saberem, acolheram anjos” (Hb 13, 2). Segundo Jim Harris, presidente da USD, a escultura tem o objetivo de lembrar a todos “como os ensinamentos bíblicos nos incentivam a cuidar das nossas comunidades mais pobres e vulneráveis, incluindo aquelas que fogem de seus países em busca de uma vida melhor”, disse, citado pela Catholic News Agency.
Localizada em frente à Escola de Estudos da Paz Joan B. Kroc, na extremidade oeste do campus universitário, a nova escultura está no lugar ideal, assinalou por seu lado Michael Lovette-Colyer, vice-presidente da instituição e coordenador da Missão Integração. “Será a primeira coisa que os visitantes verão ao entrar no nosso campus. Com vista para o Oceano Pacífico, o barco aponta para o coração do nosso campus. Isso transmite a ideia de que nosso campus é um lugar acolhedor.”
Lovette-Colyer reconheceu que a instalação da escultura coincide com um período de debate acirrado sobre a imigração nos Estados Unidos e não só, com católicos a defender apaixonadamente um ou outro lado da questão.
Referindo-se a declarações recentes e a um vídeo da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA que promove uma política de imigração mais generosa, o vice-presidente da universidade assegurou: “Estamos do lado do Papa Francisco e do Papa Leão XIV, do nosso bispo local, Pham, e do seu antecessor [Cardeal Robert] McElroy nesta questão. Reconhecemos que existem dimensões políticas, mas não queremos ser partidários. Como o Papa Francisco enfatizou, queremos ser humanos e respeitar a dignidade de todas as pessoas humanas.”
E acrescentou ainda: “A imigração é um tema que evoca sentimentos fortes. É uma questão importante para os nossos alunos aprenderem e refletirem sobre ela. A escultura pode servir como ponto de partida para conversas em sala de aula, onde os alunos podem discuti-la de forma crítica e cuidadosa.”
O autor da escultura, Timothy Schmalz, marcou presença na inauguração e contou que teve a ideia para a obra após uma conversa com o padre jesuíta (agora cardeal) Michael Czerny, ex-subsecretário da seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano.
“[Czerny] sugeriu que eu começasse a pensar em criar uma escultura sobre migrantes e refugiados, não apenas porque é uma crise atual, mas porque sempre foi importante ao longo da história da humanidade”, partilhou o escultor canadiano.
Schmalz confirmou que o propósito de “Angels Unawares”, assim como de toda a sua arte, “é evangelizar e pregar o Evangelho”. Quase todos os 140 migrantes retratados no barco são pessoas reais, alguns baseados nos rostos de modelos vivos que visitaram o seu atelier na região de Toronto. Muita da sua inspiração veio de fotografias de migrantes que passaram pela Ilha Ellis, no porto de Nova Iorque. E duas das figuras são baseadas nos pais do próprio cardeal Czerny, que outrora foram migrantes da Hungria fugindo do comunismo.
O artista afirmou acreditar que “Angels Unawares” se enquadra na mesma categoria da Estátua da Liberdade, no porto de Nova Iorque, “mas com rostos e um enfoque espiritual”. E, descrevendo-se como “um artista soldado do Vaticano”, concluiu que a arte é uma ferramenta eficaz que a Igreja Católica pode e deve usar para transmitir a “mensagem cristã”.
Texto redigido por Clara Raimundo/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.








