António Marujo, jornalista do setemargens.com

O que ficou do Jubileu? Gestos repetidos sem efeitos pessoais ou comunitários? Vontade de mudança efectiva? Decisões e horizontes de conversão?

Há 25 anos, o Jubileu ficou marcado pela reconciliação com a história: o Papa João Paulo II pediu perdão pelos erros históricos da Igreja; o então cardeal Policarpo repetiu o gesto no lugar onde em 1506 ocorreu um massacre de judeus; mas não houve a mesma atitude em relação ao papel da Igreja durante o Estado Novo (tal como em Espanha com a ditadura franquista ou a Guerra Civil), ao contrário do que fizeram os bispos da Argentina, Brasil ou Chile em relação às ditaduras militares que esses países sofreram. O Jubileu 2000 fez ainda memória do martírio de milhões de crentes na então União Soviética, América Latina, China e outros países asiáticos ou de África; e viveu uma campanha – da qual João Paulo II foi uma das vozes importantes – em defesa do perdão da dívida aos países pobres.

Em 2016, o Papa Francisco preencheu o Jubileu da misericórdia com gestos significativos de atenção a pessoas presas ou sem-abrigo, pobres, vítimas de tráfico humano, refugiados, doentes, migrantes, entre muitos outros – grupos hoje insultados por quem enche a boca com as missas que frequenta (como se pode comungar insultando e espalhando ódio? – pergunto-me muitas vezes). Francisco instituiu ainda os “missionários da misericórdia”, preparados para o acolhimento pessoal, que tantas vezes falta nas comunidades cristãs.

Deste Jubileu 2025, o que ficou? Na tradição bíblica, o ano jubilar trazia o perdão de dívidas, o repouso da terra e a libertação de escravos, para restabelecer a justiça, relações fraternas e maior proximidade com Deus. Quando o mundo se desgraça na guerra e na emergência climática, no aumento do fosso das desigualdades, na violência contra mulheres, crianças ou os mais desprotegidos, que boa nova trouxe este Jubileu? Certamente muitas vontades de mudança. Mas o mundo continua a desesperar por crentes que, na sociedade, na política e na economia, assumam até ao fim a luta pela paz, pela defesa da criação, pela centralidade da pessoa – de todas as pessoas. Muitas “portas santas” se abriram, muitas portas estão por abrir, para incluir todas e todos no plano de Deus para a humanidade. E será tarde, esperar pelo próximo Jubileu.

O autor escreve segundo a anterior norma ortográfica.

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