Partiram de Barcelona (Espanha) em março, com destino a Marselha (França), e acabam de passar por Istambul (Turquia). Quase duzentos jovens, com idades entre 20 e 35 anos, de diversas nacionalidades, culturas e religiões, divididos em oito grupos, revezam-se a bordo do navio-escola Bel Espoir. Respondem ao apelo do Papa Francisco para construir a paz no Mediterrâneo, e foram esta semana recebidos pelo seu grande amigo Bartolomeu, o patriarca ecuménico de Constantinopla, que lhes dirigiu palavras de gratidão e esperança.
“Vocês vêm das margens do Mediterrâneo, um mar de luz, mas também de lágrimas. Vocês navegaram onde tantos homens e mulheres pereceram na esperança de um futuro melhor. Ao caminharem pelos cais de tantos portos, ouviram gritos de angústia, mas também cânticos de solidariedade. Aqui, neste mar interior da nossa humanidade, um novo capítulo está a ser escrito hoje no diálogo entre os povos, entre as religiões e entre as gerações”, afirmou o Patriarca Bartolomeu, ao acolher no Palácio Apostólico de Fanar alguns dos participantes da iniciativa Med25 – Bel Espoir, liderada pelo arcebispo de Marselha, Jean-Marc Aveline.
“O diálogo”, disse Bartolomeu no seu discurso aos jovens, “não é uma opção opcional, mas uma obrigação evangélica; não é um luxo reservado aos teólogos, mas um dever cristão inscrito no coração de nossa vocação de batizados”. E reconheceu: “Num mundo tenso, marcado por tantos conflitos — na Ucrânia, na Terra Santa, no Oriente Médio, na África — o vosso testemunho como jovens cristãos é ainda mais valioso”.
Em seguida, o patriarca ecuménico partilhou como tem sido frutífero o diálogo entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica, desde o “encontro histórico entre o patriarca Atenágoras e o Papa Paulo VI em Jerusalém em 1964” até aos encontros com João Paulo II, Bento XVI, Francisco e já com Leão XIV, “porque o futuro do cristianismo neste mundo fragmentado depende de nossa capacidade de caminhar, testemunhar e servir juntos”.
Bartolomeu recordou com particular emoção a visita do Papa Francisco à ilha de Lesbos, em 16 de abril de 2016, onde foi recebido juntamente com o arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, Hieronymos: “Naquele dia, declarámos que ‘como chefes das nossas respetivas Igrejas, estamos unidos no desejo de paz e na preocupação de promover a resolução dos conflitos através do diálogo e da reconciliação’”.
Uma experiência de encontro e fraternidade diária
O mesmo desejo e preocupação unem estes que jovens que desde março viajam de costa a costa participando em sessões de formação sobre a paz, organizando conferências e festivais em cada porto de escala e vivendo uma experiência de encontro e fraternidade diária.
O espírito, pode ler-se no sítio da iniciativa, é o dos Encontros do Mediterrâneo de Bari (2020), Florença (2022), Marselha (2023) e Tirana (2024), com coordenação da arquidiocese de Marselha e liderados pelo cardeal Aveline, a quem o Papa Francisco confiou a missão de promover e construir a paz no Mediterrâneo.
Ao todo, esta “odisseia” moderna passará por cerca de trinta portos. Em Istambul, na Turquia, o programa incluiu uma visita à igreja de São Salvador em Chora e ao convento dominicano, onde os jovens foram recebidos pelo padre Claudio Monge, professor de interculturalidade das religiões, residente na Turquia há 22 anos, e participaram numa mesa-redonda sobre ecologia integral ao serviço da paz. Houve ainda tempo para uma celebração na catedral católica arménia e uma visita à mesquita de Solimão, o Magnífico, e a outros lugares simbólicos de Istambul. Esta terça-feira, 8 de julho, a navegação foi retomada em direção à Grécia. As próximas paragens serão Atenas, e depois Durres (Albânia), Trieste, Ravena, Bari e Nápoles (Itália). O navio-escola deverá chegar a Marselha no final de outubro.
Texto redigido por Clara Raimundo/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.








