Consciente do “pouco conhecimento que existe, mesmo entre católicos, do que tradicionalmente se chama Doutrina Social da Igreja”, a Comunidade da Capela do Rato, em Lisboa, vai promover, a partir desta quinta-feira, 27 de fevereiro, um ciclo de três conversas para aprofundar esse conhecimento e aplicá-lo de forma concreta. “Como realizar o amor ao próximo hoje? Que valores éticos privilegiamos na economia, na política, na sociedade? De que tipos de moral individual e social precisamos?” são algumas das questões que estarão na base destas sessões, gratuitas e abertas a todas as pessoas interessadas.
A iniciativa, intitulada “Para uma sociedade mais justa: desafios do pensamento social cristão”, “surge de um pedido concreto dos grupos sinodais da comunidade”, explica ao 7Margens Alfreda Ferreira da Fonseca, que integra a equipa organizadora.
Uma das conclusões a que estes grupos chegaram foi a de que seria importante compreender que, “quando o Papa Francisco fala de uma economia que mata, da necessidade de um desenvolvimento que a todos beneficie e não destrua o ecossistema em que habitamos, ou que no centro da fé cristã está a opção pelos mais pobres e excluídos, ou ainda que a guerra e a violência são intrinsecamente perversas, não está realmente a dizer nada que seja substancialmente diferente do que este pensamento social cristão de matriz católica foi desenvolvendo e atualizando ao longo do tempo”.
Recordando que já no século XIX, “com a primeira sistematização formulada pelo Papa Leão XIII na encíclica Rerum Novarum, de 1891, estão claramente enunciados, quer a dignidade da pessoa humana, quer o valor do trabalho, o papel do Estado, a liberdade económica, e a função social da propriedade privada”, Alfreda Ferreira da Fonseca assinala que as questões sociais atravessaram os dois últimos séculos e “hoje continuam pertinentes”.
Para esta professora de Filosofia, “é na distinção entre princípios éticos decorrentes da fé cristã e a mutabilidade das mediações que a moralidade, dela decorrente, vai gizando no decorrer do tempo, que se enquadra o pensamento social cristão, pois daí decorre a capacidade de, em cada época, ler os sinais dos tempos, como pede o Concílio Vaticano II, e agir em conformidade”.
O novo ciclo de conversas na Capela do Rato pretende, assim, “aprofundar o conhecimento deste património que nos ajuda hoje a seremos verdadeiramente testemunhas do amor de Deus neste mundo complexo que é o nosso”.
A primeira sessão, agendada para esta quinta-feira, 27 de fevereiro, às 21 horas, terá como orador principal o padre Peter Stilwell e será subordinada ao tema “Os princípios evangélicos da Doutrina Social da Igreja”. Um mês depois, a 27 de março, será a vez de José Manuel Pureza e Raquel Vaz Pinto tentarem responder à pergunta “Há guerra justa?”. E, no dia 30 de abril, Joana Castro Costa e Carlos Farinha Rodrigues irão refletir sobre a “Economia de Francisco: para uma partilha justa”. A entrada é livre, não sendo necessária inscrição prévia e estando a participação sujeita à lotação do espaço.
Texto redigido por Clara Raimundo/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.