Jornadas do Clero realizaram-se em Fátima | Foto: DR

Há um “‘fosso entre o laicado e o presbiterado, não obstante a diversidade de dons que o Espírito concede à nossa Igreja e a presença, de forma muitas vezes não reconhecida ou valorizada, de muitas pessoas colaboradoras na participação do múnus de ensinar, santificar e testemunhar a caridade”, afirmou o padre António Jorge Almeida, reitor do Seminário Interdiocesano de São José (Braga), secretário da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, e membro do Cabido da Catedral de Viseu, numa das sessões das Jornadas de Formação do Clero das Dioceses do Centro, que terminaram quinta-feira, 30 de janeiro, em Fátima.

A propósito do tema “O ministério do presbítero em contextos de mudança”, o responsável falou na quarta-feira, 29, sobre a importância da sinodalidade. “Apesar dos sucessivos esforços” do magistério católico (documentos do Papa e dos bispos), “a falta da existência e da interação entre uma maior diversidade de ministérios leva a que uns se sintam ou vivam à sombra de quem ‘tem mais poder’. Isto verifica-se nas ‘pontes movediças’ que constituem alguns ministérios, como é o caso do diaconado permanente”, acrescentou. “Ou de ministérios entendidos como meros ‘atalhos’ no caminho transitório para o presbiterado”.

De acordo com o orador, o ministério ordenado – “muitas vezes entendido como função, desconsiderado o pressuposto de uma profunda espiritualidade enraizada em Jesus Cristo” – “leva a cansaços e a desencantamentos”. Por isso, “urge a sinodalidade da qual depende a comunhão entre vários ministérios, para uma missão mais completa e eficiente.”

Formação conjunta

O secretário da Comissão Episcopal lançou uma proposta e deixou um apelo. “Não podemos pensar mais a perfeição cristã só para quem vive uma consagração especial. É preciso aprender a deixar-se formar e a formar juntamente com os leigos e as famílias”, afirmou. “Veja-se, também, um certo ‘fosso’ entre as nossas instituições formativas e as famílias. O apelo que nos é feito à alegria e à renovação da Igreja no seguimento do Senhor, procurando os modos para lhe sermos fiéis, baseia-se na identidade batismal comum, enraíza-se na diversidade dos contextos em que a Igreja está presente.”

Para António Jorge Almeida, a “pluralidade de contextos” poderá ser interpretada como um “convite” à “aproximação pastoral” a um conjunto de realidades diversas, podendo ser uma ocasião para “’refundar’ o ministério ordenado, em comunhão com os outros ministérios”. “Nunca a renovação da Igreja significou ficar fechado dentro de um círculo vicioso de tipo antropocêntrico, mas de tipo relacional”, indicou.

Já na quinta-feira, 30, último dia das jornadas, o padre Juan Carlos Carvajal Blanco, da Diocese de Madrid (Espanha), insistiu na importância de os cristãos se incorporarem numa determinada comunidade eclesial concreta, para se tornarem verdadeiras testemunhas do Evangelho na vida quotidiana a partir da experiência eclesial. “O encontro com Jesus Cristo não é uma emoção, nem voluntarismo, mas realismo, encontro real mediado pela humanidade, porque nos reconhecemos humanos”, referiu.

Partindo da verificação de que “o Mundo está mudado”, Carvajal Blanco disse que a Igreja tem de apostar no modelo de iniciação cristã e perguntou ao clero presente: “Este encontro real, que podem fazer os padres se não se dedicarem a isto?” Por vezes, em muitas comunidades, “falta a experiência com Cristo, o compromisso” e é isso que a catequese deve procurar, para que não se caia no risco de um Deus “irreal”.

As Jornadas de Formação do Clero das Dioceses do Centro decorreram desde terça-feira com a presença de cerca de 250 padres e diáconos das seis dioceses do centro de Portugal – Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco e Viseu. A iniciativa, com o tema “Comunicação da fé em tempos de mudança”, realizou-se no Centro Pastoral de Paulo VI. O programa do encontro incluiu conferências, ateliês, momentos de oração, de convívio e de partilha, dinamizados por especialistas nos temas em análise.