Francisco de Assis viu “pairar sobre ele a figura de um Serafim, um anjo de seis asas, que o inunda de uma dor profunda e ao mesmo tempo de uma inefável alegria”, conta o frei Álvaro Silva | Imagem: DR

Com o lema “Das feridas à vida nova”, a Ordem dos Franciscanos deu início às celebrações do oitavo Centenário dos Estigmas de São Francisco de Assis no início deste ano. Duas realidades acompanharam a vida de São Francisco: “o doce e o amargo”, expressão usada pelo próprio, no seu testamento espiritual, ao relatar o encontro com o leproso no início da sua conversão. São anos amargos, os que Francisco vive entre 1220 e 1224, no interior da fraternidade. Em 1223, com a autoridade da sua coerência de vida, Francisco escreve o texto da Regra que viria a ser aprovada com bula papal a 29 de novembro do mesmo ano. Estes tempos difíceis despertam em Francisco um grande desejo de silêncio e de contemplação.

Em 1224, o santo de Assis sobe ao monte Alverne, e por ocasião da festa da Exaltação da Santa Cruz, estando ele a fazer uma quaresma em honra de São Miguel Arcanjo, mergulhado em profunda oração e com o desejo de sentir no seu próprio corpo as dores do Crucificado na hora da sua Paixão, vê pairar sobre ele a figura de um Serafim, um anjo de seis asas, que o inunda de uma dor profunda e ao mesmo tempo de uma inefável alegria. Sem perceber com a inteligência as razões daquela visão, Francisco sentiu uma ardente alegria, enquanto no seu corpo começaram a aparecer os sinais dos cravos de Jesus Crucificado. É também por isto que São Francisco foi intitulado de “Alter Christus” (Um outro Cristo, em português).

Na sua juventude, despertou para a sua vocação e missão ao ouvir a voz do crucifixo de São Damião. Agora, dois anos antes da sua morte, vem o mesmo Crucificado carimbar o seu frágil corpo com as chagas do Senhor. Apoderou-se então de Francisco a certeza de ter vivido sempre a letra e o espírito do Santo Evangelho. Com o seu ser carismático e a sua vida de profeta, Francisco saiu do mundo e entrou num mundo novo, converteu-se, mudou a sua vida, optou por Cristo pobre e Crucificado.

A nossa sociedade precisa de propostas carismáticas, para aproximar Cristo da humanidade. Como será que expresso a minha solidariedade com os crucificados e os excluídos que me cercam? A figura do leproso no século XIII é a figura de todos os descartados do século XXI: a África esquecida, os idosos abandonados, os países divididos, a limitação do acolhimento a refugiados e migrantes. Em todos estes, sangram continuamente as chagas de Cristo.

Frei Álvaro Cruz da Silva, Ordem dos Frades Menores (OFM); Texto conjunto MissãoPress