Um jovem seminarista de 27 anos, é uma das vítimas da violência contra a Igreja Católica na Nigéria | Foto: DR

O estado de tensão na Nigéria é forte, porque há uma crescente violência no país, fomentada por grupos armados e terroristas que atacam cristãos. A situação desta violência anticristã no Norte, onde é mais gravosa, começa a alastrar a outras regiões deste imenso país, onde 53 por cento são muçulmanos, 46 por cento são cristãos, dos quais 11 por cento são católicos.

O sentimento das comunidades cristãs, católicas, anglicanas e protestantes, é o de que as autoridades centrais e regionais não querem resolver o problema do terrorismo contra os cristãos. Pelo contrário, estes e outros casos estão a acontecer num quadro de quase impunidade.

Os grupos do Estado Islâmico, incluindo o Boko Haram, e outros movimentos terroristas e criminosos ‘misturam’ motivações religiosas com questões étnicas. Há também insegurança em relação ao governo, constituído, na sua grande maioria, por muçulmanos e membros do Norte do país, sendo que no passado não era assim, pois tradicionalmente o governo baseava-se num equilíbrio entre as partes islâmica e cristã. A Santa Sé acompanha com preocupação a situação da Nigéria, porque a paz entre cristãos e muçulmanos é crucial para a estabilidade do país e do continente africano.

Ainda no passado mês de setembro, dia 7, Na’aman Ngofe Danlami, um jovem seminarista de 27 anos, foi queimado até à morte, durante um ataque à reitoria da paróquia de São Rafael, na diocese de Kafanchan, no Estado de Kaduna. O crime foi cometido por membros da etnia Fulani, formada por pastores nómadas que seguem uma seita islâmica, sob a inércia das autoridades, e que em anos recentes têm vindo a atacar aldeias cristãs no país.

O ataque podia ter tido consequências mais graves, porque dois sacerdotes conseguiram sair a tempo da igreja em chamas. Os atacantes pretendiam sequestrar um dos padres – Emmanuel Okolo – e, não conseguindo, decidiram incendiar a paróquia. No mesmo dia em que Na’aman Ngofe perdeu a vida, ocorreu, em Kaduna, o rapto de outro seminarista – Ezekiel Nuhu – pertencente à diocese de Abuja, que foi sequestrado juntamente com o seu pai, com quem estava a passar férias. Os bandidos invadiram a casa e levaram-nos. Só em 2022, foram sequestrados 28 sacerdotes. Entre estes, quatro foram assassinados. Nos primeiros oito meses deste ano, são já 14 os clérigos raptados.

A fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) tem denunciado ativamente a perseguição contra os católicos na Nigéria, bem como noutros países, sobretudo no Paquistão e no Egito. No passado mês de junho, ao lançar em português o seu “Relatório sobre a liberdade religiosa no mundo”, a fundação levou à Assembleia da República o padre Bernard Adukwu, nigeriano residente em Portugal há dez anos, que considera que “querem apagar a presença cristã” no seu país. O sacerdote deu um breve mas chocante depoimento sobre a dramática situação dos cristãos nigerianos, em especial no Norte do país.

Texto: Álvaro Pacheco