Bernard Obiero - Diretor da Fátima Missionária

A sociedade está em constante mudança, em todos os aspetos – social, económico, político e religioso. O Papa Francisco descreve o nosso tempo não apenas como uma época de mudanças, mas como uma verdadeira mudança de época. Estamos hoje numa fase nova da história, com profundas e rápidas transformações que se estendem de modo progressivo. A nova fase da história é provocada pela inteligência e várias atividades humanas, diferentes modos de pensar e agir. Falamos de uma verdadeira transformação social e cultural que depois se reflete também na Igreja. Como disse o filósofo e teólogo checo Tomáš Halík, “a forma das religiões e os papéis que desempenham nas diferentes sociedades e culturas encontram-se também em mutação”.

Esta transformação traz consigo algumas complexidades. Muitas palavras ‘bombardeiam’ diariamente a nossa escuta, e muitas vezes não temos tempo para compreender os seus significados e impactos. A Igreja deve adotar um novo e mais simples estilo de vida, e também adaptar a sua linguagem ou a sua forma de comunicar, para ser mais dinâmica e relevante. “Para levar a cabo esta missão, é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas” (Gaudium et Spes, 4).

Neste exercício da leitura dos “sinais dos tempos”, do conhecimento do mundo em que vivemos e das suas “esperanças e aspirações”, é necessário escutar bem para comunicar melhor – escutando-nos a nós e ao outro que nos fala. Escutar atentamente para responder às várias necessidades. Escutar a voz dos pobres, dos marginalizados e da criação… Escutar para saber o que é verdadeiro ou falso.

O Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2023, defende uma escuta “sem preconceitos”, “atenta e disponível”, e afirma: “Se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor”. Francisco esclarece ainda que “só ouvindo e falando com o coração puro é que podemos ver para além das aparências, superando o rumor confuso que, mesmo no campo da informação, não nos ajuda a fazer o discernimento na complexidade do mundo em que vivemos”.