José Ornelas Carvalho, bispo da diocese de Leiria-Fátima

A Peregrinação Internacional Aniversária de outubro ao Santuário de Fátima inicia esta quarta-feira, dia 12. A presidir às celebrações vai estar José Ornelas Carvalho, bispo da diocese de Leiria-Fátima, que esta tarde, em conferência de imprensa, fez referência à “questão dos abusos sexuais que se têm verificado na Igreja”,  e que envolvem o seu nome, como o próprio referiu.

“Não é uma questão nova. É uma questão que, particularmente nos últimos 20 anos, vem sendo trabalhada dentro da Igreja Católica. Têm-se repensado procedimentos, têm-se traçado linhas de conduta, que estão a transformar, realmente, o modo de encarar, de ver, de perceber e de tratar estes acontecimentos trágicos e dramáticos que não têm desculpa e nunca deviam ter acontecido, mas estamos num ponto, também nós, de viragem”, disse o prelado, aludindo depois ao trabalho da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja em Portugal.

“Penso que a constituição desta comissão independente, para analisar os casos que aconteceram nos últimos 50 anos, mas também, para analisar os próprios arquivos das dioceses, das congregações e das instituições da igreja, e dar sugestões de traçar perfis que nos permitam compreender melhor o fenómeno aqui em Portugal, significam um esforço grande que estamos a fazer, porque não nos conformamos com aquilo que sabemos que, infelizmente, existiu também na igreja. Não só em termos de casos de pessoas, mas também de comportamentos e de modos de fazer e de tratar estes assuntos, que precisam de ser revistos e que estão em transformação, mas que precisam desta análise, independente e séria, que está a ser feita”, referiu o prelado, expressando depois o seu reconhecimento pelo trabalho do organismo.

“Quero aqui deixar um agradecimento muito grande, e um reconhecimento ao papel desta comissão e a todos os seus participantes que têm sido, realmente, independentes, mas com a qual estamos sempre em diálogo para encontrar os caminhos e a colaboração que tem sido sempre constante durante este tempo”, disse, adiantando que os “dois casos” que lhe dizem respeito e que “têm estado a ‘lume bastante aceso’, nestes dias”, foram “submetidos à justiça e à Procuradoria-Geral da República, tendo sido arquivados ambos os casos”.

“Da minha parte posso dizer que estou tranquilo”, afirmou, sublinhando que “não houve nenhuma manobra de encobrimento”. “Queremos saber a realidade que existe, sejam eles os números que forem”, frisou, destacando que por detrás dos números “estão com pessoas com dramas muito grandes”. “Para nós, Igreja, cada caso que acontece é uma derrota. É uma derrota, antes de mais, porque alguém sofre. É uma derrota porque alguém foi espezinhado nos seus direitos fundamentais e de uma forma que é aquela que mais atingiria qualquer pessoa. Depois, porque também contradiz radicalmente tudo aquilo que nós queremos, somos e queremos ser como Igreja, a nossa identidade e a nossa missão”, destacou o bispo, que vai conduzir as cerimónias de uma peregrinação, que tem como tema “Levanta-te! És testemunha do que viste!”