Francisco Ferreira - Presidente da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável

Podíamos pensar que o final de 2021 e o ano de 2022 eram uma exceção e que a seca que atravessamos em Portugal faz parte da variabilidade do clima – uns anos mais chuvosos, outros mais secos. Infelizmente não é assim. Quando olhamos para a precipitação nas últimas duas décadas, percebemos que a tendência é efetivamente a de uma redução da precipitação anual, com cada vez mais anos secos e cada vez com menor precipitação, muitos deles sucessivos. Mais ainda, muita da chuva cai por vezes de forma violenta, causando cheias e prejuízos avultados para a agricultura.

Não há neste capítulo dúvidas sobre a causa destas alterações climáticas. Poluímos demasiado, a atmosfera está a aquecer e muitos países sofrem as consequências destas mudanças, com cheias no Paquistão, mas secas a afetar a funcionamento, não apenas ambiental, mas também económico, de inúmeros cursos de água, desde o Rio Colorado nos Estados Unidos, ao rio Yangtze na China, aos Rios Pó, Reno, Loire, ou Danúbio na Europa. Não nos podemos nunca esquecer que um rio é uma fonte de vida, e, por exemplo, sem água doce a chegar aos estuários, não temos pescas nos oceanos. Por isso, não nos devemos lamentar por deixar a água seguir o seu ciclo natural.

Em Portugal, como na maioria dos países Mediterrânicos, a agricultura é a atividade maior utilizadora de água – cerca de 70%, sendo também neste setor que se estima o maior desperdício, da ordem dos 40%. Muitas indústrias também utilizam água, desde a produção de energia hidroelétrica, ao fabrico de inúmeros produtos, com destaque para o papel. O consumo humano é responsável por cerca de 15% das utilizações. Assim, há uma responsabilidade grande de quem lidera atividades económicas intensivas no uso da água em aplicar medidas de eficiência e as entidades distribuidoras, na grande maioria câmaras municipais, devem fazer todos os esforços para se evitarem perdas.

Nós, como consumidores, temos obviamente também uma missão a cumprir evitando o desperdício de água, não apenas porque podemos poupar custos, mas também porque é nosso dever fazermos um uso racional deste bem. Em nossas casas, onde gastamos mais água é no duche, no autoclismo, a lavar a loiça à mão e se tivermos alguma rega. No duche, poupar água significa também pouparmos a energia com que aquecemos a água, e um chuveiro mais eficiente e uma redução do tempo fazem uma grande diferença. Em tempo de seca lembramo-nos também de quem vive permanentemente com falta de água em países onde se percorrem quilómetros para a ir buscar. Por isso mesmo, é preciso querer e saber poupá-la todos os dias.

Texto: Francisco Ferreira, Presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável