As celebrações de maio no Santuário de Fátima tiveram início na noite desta quarta-feira, 12 de maio, com a recitação do terço, na Capelinha das Aparições. A homilia da celebração da vigília foi proferida por José Tolentino Mendonça, cardeal, arquivista e bibliotecário do Vaticano, que este ano preside às celebrações, e que falou aos fiéis das vastas consequências provocadas pela pandemia da Covid-19.

“De maio passado a este vivemos um ano difícil. Experimentamos uma vulnerabilidade que desconhecíamos. A pandemia em curso ceifou vidas e alastrou lutos. De repente, sentimo-nos reportados à época dos santos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, quando a pandemia da febre espanhola fazia milhões de vítimas. A atual pandemia tem disseminado sofrimento: condicionou sociabilidades, isolou-nos uns dos outros, acentuou solidões. A crise sanitária ativou outras crises, no campo social, na precarização do trabalho, no agravamento das dificuldades económicas, na pobreza que cresce e não só entre os segmentos considerados mais frágeis, na debilitação do campo escolar, na diminuição de presenças nas comunidades cristãs e na incerteza que pesa sobre a vida tantos”.

Perante o sofrimento em que tantos se encontram mergulhados, Tolentino Mendonça deixou um apelo a Nossa Senhora de Fátima. “Queremos hoje pedir, Senhora de Fátima, que ilumines a dor de todos, sem fronteiras nem distinções, que ilumines a dor de próximos e distantes, de crentes e não-crentes, como se fosse uma só. Que escutes no silêncio desta noite a fadiga e o esforço, a solidão e as lágrimas, o cansaço e as necessidades de todos. Que veles pela grande família humana ferida. E nos mobilizes a todos para o desafio urgente de consolar, de cuidar e de reconstruir”, suplicou.

Tolentino Mendonça pediu a Nossa Senhora de Fátima ânimo para todos os seres humanos. “Em especial te rogamos, Senhora de Fátima, para que a crise que vivemos não se torne numa crise da esperança. Pois precisamos da esperança para olhar mais para diante, para ganhar confiança e repartir. Precisamos da esperança para transformar os obstáculos em caminhos e os caminhos em novas oportunidades. Precisamos da esperança para nos unirmos mais, para construirmos sociedades eticamente qualificadas, sociedades que concretizem a justiça social e a fraternidade entre todos os homens”, apelou.

Além de pedidos dedicados ao bem comum, a intervenção do cardeal foi também uma ocasião para agradecimentos. “Não queremos apenas pedir: queremos também agradecer. Pois se cada um de nós tem uma história de sofrimento para contar, tem também histórias de amor, de reencontro, de interajuda e solidariedade e essas histórias constituem um património que não podemos esquecer. A família foi colocada à prova, mas para muitos foi uma oportunidade para redescobrir o que significa estar em família e o tesouro humano insubstituível que a família representa. E não esquecemos o testemunho de quantos colocaram o bem dos outros acima do seu próprio bem. A generosidade de tantos que deram um passo em frente quando era mais cómodo permanecer no seu lugar. É verdade: de quantas histórias de amor cada um de nós tem sido testemunha”, lembrou o bibliotecário do Vaticano.

Em Fátima, Tolentino Mendonça pediu para que todas as dificuldades do último ano possam ser um ponto de partida para algo que se possa vir a tornar melhor. “Estes meses foram difíceis, mas não foram vãos: ao nosso coração ocorreram, por exemplo, tantas perguntas. E perguntas não banais, que se podem tornar um trampolim de futuro. Perguntas sobre o sentido da vida, sobre o que é afinal o mais importante a salvaguardar, sobre mudanças de rumo a introduzir nas nossas vidas e nas nossas sociedades. A turbulência da pandemia também nos desinstalou e nos ajudou a identificar o essencial com mais clareza. Queremos confiar-te, Mãe de Jesus e nossa Mãe, o caminho histórico e interior que estamos a percorrer e pedir-te que esta dor sirva para alguma coisa, que todo este sofrimento nos torne melhores: mais espirituais, mais humanos e mais fraternos”, apelou o presidente das celebrações de maio, perante um recinto que atingiu a lotação máxima estabelecida . A peregrinação internacional aniversária chega ao fim quinta-feira, 13 de maio.