Foto: DR

Dois contentores de bens que partiram de Fátima no passado mês de novembro chegaram esta semana ao seu destino – Tete, em Moçambique. Um dos contentores levou material médico e medicamentos, e outro material escolar e de evangelização, assim como enlatados e papas. A abertura dos contentores não ocorreu logo após a sua chegada, devido aos efeitos mais intensos da tempestade tropical Ana, que fez pelo menos 18 mortos, quase uma centena de feridos e que afetou mais de 20 mil pessoas.

Segundo Simão Pedro, sacerdote missionário da Consolata responsável pelo envio dos contentores, o “material diverso transportado num dos contentores vai agora ser distribuído pelas comunidades mais necessitadas”. Já os medicamentos e material médico “foram diretamente para o Hospital Provincial de Tete, o qual fará a distribuição dos bens pelos postos de saúde daquela diocese”. Simão Pedro sente-se radiante com o desenvolvimento que esta iniciativa está a ter. “Estou feliz por este grande projeto ter chegado a bom termo. Esta ação envolveu centenas de pessoas de bom coração. Todo este material que chegou a Tete é de grande necessidade para o povo de lá”, destacou o missionário.

Diamantino Antunes, missionário da Consolata e bispo de Tete, encontra-se atualmente de viagem a Portugal, e por isso quem está a acolher no terreno todos estes bens é o padre Sandro Faedi. “Estão a chegar a Tete os contentores com muitos bens que tantos benfeitores de Fátima, de todo o Portugal e amigos da Consolata enviaram para a nossa diocese. Perante a ausência do senhor bispo, eu, o vigário geral e um leigo estamos a receber os bens. Descarregámos os contentores debaixo de chuva, contentíssimos com tantos livros, cadernos, que são as coisas mais importantes que nós podemos agora distribuir nas nossas escolas e internatos. Há muito bem que podemos fazer. E depois há também o missal em língua cinyungwe, que finalmente foi traduzido e impresso com grande esforço dos missionários e do bispo Diamantino. O missal será distribuído nas paróquias e em todas as comunidades. Há muitos bens que ainda não abrimos, pois foi tudo a correr por causa da chuva provocada pela tempestade tropical Ana. O nosso muito obrigado a todos os benfeitores. Esperamos poder fazer muito bem com estes materiais que acabam de chegar”, disse o missionário da Consolata italiano.

Por ocasião do envio dos contentores a partir de Fátima, Diamantino Antunes demonstrou-se muito grato e feliz com a iniciativa. “Sinto uma alegria grande porque as pessoas de boa vontade têm o coração aberto às necessidades, sobretudo dos mais pobres, e souberam mobilizar-se para reunir todos estes materiais que fazem falta à diocese de Tete e que nos irão ajudar a apoiar outras pessoas. É uma alegria grande. O contentor que tem material médico e hospitalar é de grande importância no contexto atual, em que faltam medicamentos. Os hospitais e centros de saúde estão sempre numa situação limite, muito difícil, devido à crise económica e tantos outros fatores. Todo esse material vai ser de grande utilidade”, disse então o prelado.

Como tudo começou

O pavilhão dos Missionários da Consolata em Fátima foi o local escolhido para reunir um conjunto muito variado de bens para enviar em dois contentores para a diocese de Tete. Um dos contentores levou medicamentos e material de saúde, nomeadamente soro, agulhas de todas as medidas, vários tipos de bisturis, seringas, pensos, gazes de todo o tipo, ligaduras, pinças de tecidos, tesouras médicas e clínicas, conjunto de objetos para pequenas cirurgias, bombas de oxigénio, entre muitos outros bens.

Outro dos contentores transportou caixas de papas, leite, enlatados, camas, beliches, colchões, lençóis, toalhas, loiça, panos, caixas de ferragens, material escolar, livros para criar bibliotecas escolares, pás, marretas, picaretas, vestuário, brinquedos, imagens de Nossa Senhora de Fátima e de santos, terços, 5 mil crucifixos e missais dominicais em chinungwe, uma língua falada por quase 1 milhão de pessoas na província de Tete.

Ofertas de todo o país

Todos estes bens foram doados por laboratórios de medicamentos e de material médico, por associações, particulares, religiosos e empresas de diversos pontos do país como Fátima, Ribeirão, Trofa, Rio Meão, Leiria e São Mamede (Batalha). Depois de terem saído de Fátima, estes bens rumaram até ao Entroncamento, seguindo depois para o porto de Sines e daí até ao porto da Beira, em Moçambique. A deslocação destes bens desde Fátima até ao porto da Beira foi inteiramente doada por empresas transportadoras. O transporte de Beira até Tete foi oferecido pelas Forças Armadas Portuguesas.

O envio dos contentores foi organizado pelos Missionários da Consolata e pela sua instituição, a Fundação Allamano, contando com o apoio do projeto “Um grito por Cabo Delgado”. Simão Pedro destaca a oferta de medicamentos e material médico por parte de dois laboratórios – B-Braun e Bastos Viegas. As loiças foram oferecidas pela Matcerâmica, de São Mamede (Batalha), e as caixas de ferragens foram doadas pela MiniMola, de Rio Meão, em Santa Maria da Feira, e pela Sofima, de Leiria. Parte do material escolar foi doado pela papelaria Cruzmapa, de Ribeirão, e 19 caixas de livros foram doadas pela editora Papa-Letras.

As enxadas para aquele povo moçambicano foram feitas pelo próprio pai do padre Simão Pedro, que reside em Trofa. Existem também diversas ofertas provenientes da Consolata Loja, Missionários da Consolata, e dos Armazéns Carriço, em Trofa. Há ainda um agradecimento às empresas transportadoras – Torrestir e MedWay – assim como às Forças Armadas Portuguesas. Por ocasião do envio dos contentores a partir de Fátima, Simão Pedro afirmava então que toda esta mobilização de esforços mostrava que a sociedade consegue “pensar naqueles que estão distantes e que são mais desfavorecidos, mais pobres”, e que perante uma realidade dura, os cidadãos conseguem ser “solidários em todas as vertentes, seja a nível da alimentação, da educação, ou a nível espiritual”.