As pessoas que vivem junto à linha da frente não têm acesso a alimentos nem a produtos de higiene. Todos os dias recebo pedidos", partilha o bispo Maksym Ryabukha. Foto © ACN

Padres e religiosos ao serviço na Ucrânia estão a receber formação em psicologia para ajudar jovens a superar o trauma da guerra, no âmbito de uma iniciativa apoiada pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). “O trauma psicológico da guerra leva muitas crianças a perder a capacidade de ler, escrever ou falar. Precisamos de especialistas para trabalhar a saúde mental destes jovens e aprender a ajudá-los. Por isso, estamos a organizar formação psicológica para sacerdotes e agentes paroquiais”, disse Maksym Ryabukha, bispo na Ucrânia, em declarações à fundação AIS.

O prelado explica como é difícil para tantas pessoas prosseguir com as suas vidas após a morte de alguém próximo. “Apoiamos mães e esposas com filhos que perderam o marido na guerra. Muitos têm dificuldade em regressar à normalidade, presos à ideia de que a pessoa podia estar viva.”

A falta bens essenciais também é uma realidade. “As pessoas que vivem junto à linha da frente não têm acesso a alimentos nem a produtos de higiene. Todos os dias recebo pedidos: ‘Não tenho nada, a minha casa foi destruída com tudo o que possuía. Ajude-me.’ É aí que entra o apoio social e humanitário”, partilha o bispo, acrescentando que “outro grande desafio é o inverno, quando as centrais de energia são bombardeadas e a eletricidade falha. Sem luz, não há aquecimento e torna-se impossível encontrar um lugar quente e seguro. As paróquias fazem o que podem para oferecer espaços seguros, onde as pessoas possam recuperar, com cozinhas e serviços essenciais”.

Maksym Ryabukha tem 45 anos. É um dos bispos mais jovens do mundo. Está ao serviço no centro-leste da Ucrânia, o que envolve as regiões de Donetsk, Luhansk, Dnipr e Zaporizhzhia. Metade do seu exarcado – equivalente oriental a uma diocese – encontra-se ocupado por forças russas. Desde a invasão russa, foram grandes as mudanças. Antes da guerra tínhamos mais de 80 paróquias; agora temos apenas 37 ativas. As restantes fecharam, foram ocupadas ou destruídas.”

A atividade católica nas áreas ocupadas não existe. “As leis da força ocupante proíbem qualquer filiação com a Igreja Católica, seja greco-católica ou de rito latino, e é muito difícil prestar qualquer tipo de assistência religiosa. Já não temos sacerdotes nesses territórios; todas as nossas igrejas foram destruídas ou estão fechadas, e as pessoas não podem frequentá-las”, lamenta o prelado.

No exarcado onde Maksym está em atividade, existem atualmente dois bispos, sendo um deles emérito. Há ainda 53 sacerdotes e oito religiosos, distribuídos por quatro regiões. “Várias paróquias têm centros de apoio às famílias, sete centros da Cáritas, casas religiosas e grupos paroquiais.” Apesar deste cenário, as vocações religiosas não deixaram de surgir. “Temos 19 seminaristas. É um número elevado para nós, pois não somos uma grande eparquia.”

Atualmente decorrem negociações que têm em vista o fim do conflito na Ucrânia. O Papa Leão XIV disse terça-feira, 19 de agosto, que o caminho para a paz deverá ser longo. “Há esperança, mas ainda é preciso trabalhar muito, rezar muito e procurar de verdade o caminho para seguir adiante, encontrar a paz”, referiu o pontífice.