Henrique Pinto - Teólogo/Fundador da Impossible - Passionate Happenings

A desvalorização e o desinteresse pela história não surpreendem. Nem nas escolas, nem entre a população em geral. A não-repetição de erros do passado, a reflexão crítica do presente e a construção de um futuro, quiçá, radicalmente diferente, sempre estiveram entre os grandes propósitos do ensino desta disciplina.

Esta quarta-feira, dia 6 de agosto, assinalam-se os 80 anos do lançamento da primeira bomba atómica sobre Hiroshima, no Japão. As mais de 50 guerras ativas, que destroem presentemente milhares de vidas, com gritos de um sofrimento atroz, que ecoam por todo o planeta, mas que nem todos querem ouvir, não são simplesmente o resultado de um passado ignorado ou menosprezado, ainda que lhe esteja ligado, mas consequência de uma cada vez mais ausente desarmada educação para o outro, alicerçada na condição humana.

A história emerge do conflito entre diversas visões ou posições – e precisa delas para poder acontecer e narrar-se como tempo vivido. São precisamente a finitude, a fragilidade e a contingência – comuns a tudo quanto existe, sem que constituam uma falha ou um defeito – que tornam ilegítimo qualquer atentado à existência de alguém. A nossa própria sobrevivência fica obrigada a um não-desistente diálogo e à cooperação com todos os terrestres.

Na procura de entendimento – e invocando o filósofo Jacques Derrida – reconhece-se a frágil pluralidade de que somos feitos, que é vital preservar e promover. Essa consciência impõe a negociação (diplomacia), e uma
ética-do-não-domínio sobre os outros, como sugeriu Michel Foucault. Gosto de lhe chamar “Ética da terra”, em diálogo com Judith Butler, Bruno Latour e outros pensadores preocupados com o estado do nosso maravilhoso planeta azul.

O ordenamento da terra, os seus povos e nações nasceram do derramamento de muito sangue, ao longo de séculos de história ressentida. Nenhum país, nenhuma identidade ou visão do mundo é inocente. Não sou pessimista, e até defendo firmemente a nossa total desmilitarização, mas temo, face a uma generalizada impotência e impunidade, que tal como os pobres, também os militares e mercenários venham a estar sempre connosco.

O risco do nosso próprio extermínio tem estado num crescendo angustiante e é a existência paradoxal de uma bomba atómica, o pavor dela, o que vai trazendo à luz histórias do passado, refreando, como marca e ação do sagrado (Jean-Pierre Dupuy), o belicismo, a ganância, a insaciável fome de poder, de terra, de universo.