A 19 de junho assinala-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Sexual em Conflitos, uma data dedicada a recordar um dos crimes mais brutais e silenciados em contextos de guerra. A violência sexual em conflitos abrange a violação, escravidão sexual, prostituição, gravidez, aborto, esterilização e casamento forçados, e outras formas de violência sexual de gravidade comparável, perpetradas contra mulheres, homens, raparigas ou rapazes, direta ou indiretamente ligadas a um conflito.
Não se trata de um dano colateral, mas de uma arma de guerra: a violência sexual não ocorre por acaso; é uma estratégia deliberada de terror, punição e humilhação utilizada para alcançar objetivos político-militares.
As suas consequências são devastadoras: destrói famílias, desintegra comunidades e deixa cicatrizes psicológicas profundas, que perduram no tempo e atravessam gerações. Foi empregue sistematicamente e em massa na Bósnia ou no Sudão, pelo ISIS no Iraque ou pelo exército em Myanmar. Ocorreu historicamente e continua a ocorrer no século XXI. E, para cada caso documentado, muitos outros permanecem ocultos, sufocados pelo medo e pelo estigma.
A criação desta data pela ONU, em 2015, quis marcar um ponto de viragem na consciência global sobre esta questão. Transcende a mera condenação, visando reconhecer a verdade dos sobreviventes, e afirmando um compromisso internacional com a justiça. Avanços significativos no âmbito legal demonstram que a responsabilização é possível. Mas importa também valorizar o trabalho silencioso de freiras, leigos e profissionais em hospitais missionários e centros de acolhimento, ativos no combate a este flagelo no terreno. Inúmeras organizações católicas estão na linha da frente, prestando não apenas cuidados médicos, mas também um apoio centrado na restauração da dignidade e da esperança dos sobreviventes da violência sexual em conflitos. O papel da Igreja Católica é, aqui, especialmente relevante.
Muitas mulheres coreanas, erradamente conhecidas como ‘mulheres de conforto’ – um termo que serve para encobrir a escravatura sexual sistemática imposta pelo exército japonês a milhares de mulheres durante a Segunda Guerra Mundial – morreram sem reconhecimento nem reparação. O dia 19 de junho serve também para lembrar e honrar a sua luta. Não se deve, porém, limitar à evocação da memória: deve ser um apelo urgente à ação coletiva para pôr fim à impunidade e prevenir crimes cuja persistência é moral e politicamente intolerável.