Minorias religiosas no Paquistão – sobretudo cristãos, mas também hindus – enfrentam “um padrão consistente e alarmante de abuso e perseguição” no país, de acordo com um comunicado do Fórum de Direitos Humanos do Paquistão (HRFP, da sigla em inglês), que faz referência a trabalhos de investigação recentes sobre o tema.

Só nos primeiros três meses deste ano, o HRFP registou 16 casos de abusos contra minorias, sendo que a maioria não foi investigada de forma independente, com a justiça a continuar a ser necessária. A maioria desses casos envolveu sequestro, conversão forçada de meninas cristãs ao islão, casamento forçado e alegações de blasfémia contra cristãos, com as vítimas a terem dificuldades para obterem justiça, devido aos seus “recursos limitados”.

Segundo o Fórum de Direitos Humanos, os autores dos ataques agem contra pessoas com base na sua religião, e contam com frequência com o apoio de figuras religiosas e políticas. Naveed Walter, presidente do HRFP, refere que “as minorias religiosas no Paquistão são alvos mais fáceis de ataques, assassinatos, acusações de blasfémia, sequestros, conversões e casamentos forçados”, e a “falta de atenção ao sofrimento dessas comunidades é ainda mais dolorosa”.

Entre os casos registados pelo HRFP, a FÁTIMA MISSIONÁRIA faz referência a seis – Ariha Gulzar, uma menina cristã de 12 anos, e Shahnaz Bibi, uma jovem cristã de 24 anos, foram ambas sequestradas, convertidas à força ao islão e casadas com os seus sequestradores. Wasif Masih, um jovem cristão, foi falsamente acusado de roubo por muçulmanos. Foi submetido a violência física, cobriram-lhe o rosto com tinta e foi obrigado a percorrer as ruas como forma de humilhação. Javed Masih, um comerciante cristão de 30 anos, foi atacado por homens muçulmanos que o acusaram falsamente de falar contra o islão. Javed foi ameaçado e ficou gravemente ferido, permanecendo escondido com a sua família.

O cristão Farhan Masih foi falsamente acusado de blasfémia por um clérigo local. Viu-se obrigado a deixar o seu emprego, colocando a sua família com problemas financeiros e legais. O jovem cristão Akash Karamat esteve preso mais de 17 meses sob acusações de blasfémia, as quais negou. Para o HRFP, este caso é “um exemplo flagrante do uso indevido das leis de blasfémia do Paquistão”.

Perante estes casos, a FÁTIMA MISSIONÁRIA entrou em contacto com Lazar Aslam, um padre franciscano capuchinho de 39 anos e um ativista dos direitos humanos, que trabalha na arquidiocese de Lahore, no Paquistão, país onde nasceu. A partir do Paquistão, e através da troca de várias mensagens por correio eletrónico, o padre Aslam deu a conhecer outros casos de perseguição a cristãos ocorridos este ano.

Um deles diz respeito a Waqas Masih, de 22 anos, que “foi brutalmente atacado pelo supervisor” da fábrica onde trabalhava, por se recusar a converter ao islão. A gravidade do ataque obrigou à sua hospitalização. Outro caso envolveu Kashif Masih, um jovem cristão sujeito a tortura extrema e a tratamentos desumanos, que provocaram a sua morte.

Lazar Aslam apresenta também o caso de Saba, uma menina cristã de 12 anos raptada e convertida à força ao islão por um homem já casado. Outro ataque envolveu o roubo e a violação coletiva de Shumaila Noor. “Os agressores levaram à força 800 rúpias em dinheiro e um telemóvel. Ao descobrirem a identidade cristã da família da vítima [Shumaila], começaram a usar linguagem ofensiva e o roubo transformou-se numa violação coletiva e perseguição.”

Outro caso envolveu Asma Saleem Masih, de 20 anos. A jovem foi “atraída por uma amiga muçulmana” para entrar num veículo “sob o pretexto de se encontrar com o seu primo”, e foi levada para uma residência onde “foi esbofeteada” e violada por “quatro homens”. O “ataque foi gravado em vídeo pelos agressores, que usaram as gravações para a chantagear”, refere o padre capuchinho, adiantando que “apesar dos repetidos apelos, as autoridades locais têm prestado pouca cooperação e não se têm registado progressos visíveis na investigação”. Segundo o padre Aslam, a jovem “é oriunda de uma minoria cristã e de uma família desfavorecida”, que agora “enfrenta graves traumas emocionais”. O sacerdote explica que este ataque “reflete um padrão mais amplo de discriminação e violência contra as minorias religiosas no Paquistão, especialmente contra mulheres”.