“Dentro de um estabelecimento prisional, todos têm o direito a celebrar a sua religião”, refere Cláudia Duarte | Foto: DR

Há cerca de dez anos, ouvi o testemunho de um padre que se dedicava a uma missão que até ali nunca me tinha passado pela cabeça ser possível: a Pastoral Penitenciária. Durante esse testemunho, o padre David Matamá falava com tanto entusiasmo sobre o trabalho que fazia no Estabelecimento Prisional do Porto (mais conhecido por Custóias), no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo (feminino), e na Polícia Judiciária do Porto, que, no final, decidi juntar-me à sua equipa de voluntários.

As prisões são um contexto muito específico e com muitas burocracias e, por isso, para se ser colaborador – nome dado aos voluntários que vão em contexto religioso – é necessária autorização da Direção-Geral da Reinserção e dos Serviços Prisionais, que imitem um cartão.

Dependendo do grupo a que cada voluntário se junte, pode ou não ter formação. No caso da Pastoral Penitenciária, há a oportunidade dos voluntários se juntarem no início de cada ano pastoral e fazerem um encontro formativo, onde são explicados os cuidados e a atenção que devem ser tidas durante as visitas.

Uma vez parte desta equipa, são trabalhadas três dimensões: prevenção, prisão e reinserção. A prevenção passa pelo testemunho do que vemos e fazemos, em escolas e grupos das paróquias. Na prisão, entramos todas as semanas nos três estabelecimentos, onde fazemos a celebração da Palavra, formação e escutamos quem precisa de falar. Por fim, na reinserção, acompanhamos homens e mulheres que tenham saído das prisões.

Legalmente, dentro de um estabelecimento prisional, todos têm o direito a celebrar a sua religião. Para nós, todos são bem-vindos e merecedores de estarem presentes nas atividades. Não nos interessa o crime deles, mas a sua humanidade.

Quem está privado de liberdade tem, também, a sua história. E que história! O seu crime faz parte dela, mas não a define. E por isso, com dez anos de visitas às prisões, tornei-me mais empática, capaz de ver a beleza, mesmo no canto mais escuro. Vi pessoas que se reinventaram e que conseguiram mudar o rumo da sua história, mesmo sem liberdade. Vejo pessoas genuínas e cheias de qualidades. Sei que Jesus está ali, na prisão, no rosto e no coração de cada um dos que ali estão.

Texto: Cláudia Duarte