Bernard Obiero - Diretor da Fátima Missionária
O trabalho constitui uma dimensão fundamental na vida humana. Mediante o trabalho, cada pessoa realiza-se a si mesma e torna-se mais humana. “Numa sociedade realmente desenvolvida, o trabalho é uma dimensão essencial da vida social, porque não é só um modo de ganhar o pão, mas também um meio para o crescimento pessoal, para estabelecer relações sadias, expressar-se a si próprio, partilhar dons, sentir-se corresponsável no desenvolvimento do mundo e, finalmente, viver como povo”, afirmou o Papa Francisco, na encíclica ‘Fratelli tutti’.
A 15 de maio de 1891, o Papa Leão XIII promulgou a encíclica ‘Rerum novarum’, a primeira encíclica a abordar concretamente temas ligados à condição dos operários, tendo sido considerada como ‘a magna carta dos trabalhadores’. A ‘Rerum novarum’ deixou vários princípios que foram retomados e aprofundados pelas encíclicas sociais sucessivas como ‘Quadragesimo anno’, em 1931, sobre a restauração e aperfeiçoamento da ordem social, e a encíclica ‘Populorum progressio’, de 1967, onde o Papa Paulo VI traçou as coordenadas de um desenvolvimento integral do homem.
Em 1981, João Paulo II publicou a encíclica ‘Laborem exercens’, dedicada ao tema do trabalho humano. No centésimo aniversário da ‘Rerum novarum’, a 1 de maio de 1991, foi promulgada a encíclica social ‘Centesimus annus’, que destacou a necessidade de um sólido contexto jurídico que coloque a liberdade económica ao serviço da liberdade humana integral.
A ‘Rerum novarum’ foi escrita há mais de 130 anos, num contexto muito diferente, num tempo caraterizado pelas revoluções sociopolíticas, económicas e industriais, mas as contribuições da encíclica que tem sido uma referência para várias gerações sobre os direitos dos trabalhadores são ainda atuais. O documento tinha exposto a necessidade dos contratos de trabalho, um salário justo, a organização do tempo de trabalho, o direito ao descanso, a implementação de medidas de proteção social dos trabalhadores e a comunhão dos bens.
Ontem como hoje, no século XIX como no século XXI, continua viva a necessidade de um abraço entre a fé e a vida, e de um reencontro da Igreja com ‘as tristezas e as angústias da humanidade’. Continua atual a tarefa de encontrar respostas para os mais variados problemas socioeconómicos, para pôr em evidência os princípios de uma solução, onde a justiça e a equidade estejam sempre presentes.