Manuel Carvalho Da Silva, Coordenador do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social – CoLABOR

A 1 de janeiro assinala-se o Dia Mundial da Paz. A mensagem do Papa para a data é intitulada “Diálogo entre gerações, educação e trabalho – Instrumentos para construir uma paz duradoura”. Em 1919, no rescaldo da Primeira Guerra Mundial, a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi justificada pela premência da diminuição da exploração no trabalho e da promoção da justiça social, como contributos determinantes para a democracia e a paz. Em Filadélfia, nos Estados Unidos da América, em 1944, quando era necessário preparar uma nova ordem mundial e saídos do desastre da II Guerra, os líderes mundiais socorreram-se da OIT para organizarem uma conferência, cuja declaração assumiu: “O trabalho não é uma mercadoria”. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, inscreveu no seu articulado, em particular nos artigos 22.º, 23.º e 24.º os Direitos Fundamentais do Trabalho como Direitos Humanos.

Quantas escolas e professores fazem, nos diversos níveis de ensino, uma abordagem mínima sobre o que significa o conteúdo daquela Declaração Universal e a pedagogia de que não há direitos sem deveres, sendo que o primeiro destes é conhecer os direitos? E como tratamos da nossa educação/formação no plano dos valores individuais, mas também no da construção de compromissos coletivos que assegurem as intermediações necessárias ao funcionamento da democracia? Estamos a deitar mão do diálogo entre gerações (e a tratar das disfunções e ruturas que se observam dentro e fora da família) para desarmarmos os cenários apocalíticos (e medos) que todos os dias nos são apresentados como inevitabilidades? Um pouco de exercício de memória permite evitar que “compremos” uma velharia que a “economia que mata” nos apresenta como algo novo. Uma melhor formação como cidadãos e para o trabalho e mais diálogo entre as gerações podem ser armas eficazes contra o individualismo exacerbado ou as precariedades.

Hoje, ao debatemos grandes desafios que se nos colocam – como a boa utilização da ciência e da tecnologia, o combate às desigualdades e à pobreza, a resolução de problemas ambientais e ecológicos, os novos contextos geopolíticos – constatamos, mais uma vez, que o trabalho tem o dom de estar no cerne de quase todos os problemas: se for valorizado é uma alavanca extraordinária para o desenvolvimento das sociedades; se for instrumento de exploração ilimitada e de desigualdades, afunda-as.