Católicos russos à saída da catedral da Imaculada Conceição, na diocese de Moscovo, que tem menos de um milhão de fiéis | Foto: Lusa

Partilhamos um exemplo que nos vem de um país que, infelizmente, tem sido notícia há mais de um ano pelas piores razões: a Rússia. Apesar de ser uma minoria, a Igreja Católica está cada vez mais consciente da necessidade do exemplo humilde e criativo da fé em Cristo. Convidamo-vos a conhecer a forma como a pequeníssima diocese católica de Moscovo, com menos de um milhão de fiéis, vive a sua missão naquele país onde o cristianismo é, na sua maioria, ortodoxo.

Na carta aos católicos da arquidiocese da Mãe de Deus, em Moscovo, para o início do ano pastoral de 2023-2024, o arcebispo Paolo Mezzi, e o seu bispo auxiliar, Nikolaj Dubinin, afirmam que “o que faz crescer a Igreja não são os nossos planos pastorais, muito menos os nossos planos pessoais, mas sim o nosso humilde e perseverante testemunho de Cristo. Recordemos as palavras do Papa Bento XVI – ‘A Igreja cresce não através do proselitismo, mas sim pela atração por Cristo.’” Os dois bispos, recordando a viagem do Papa Bento XVI a Praga, em 2009, pedem aos fiéis para não se desencorajarem por causa do número reduzido das comunidades a que pertencem, mas para se empenharem numa “missão criativa”.

“No início do cristianismo, e muitas outras vezes no decorrer dos séculos, os cristãos eram uma minoria: as comunidades cristãs santificavam o mundo à sua volta não somente com uma nova doutrina, mas também com um estilo de vida que atraía as pessoas a Cristo. Mesmo que recusassem os ensinamentos cristãos, muitos hebreus e gentios não podiam deixar de admirar as relações de amor recíproco próprio dos cristãos, de verdadeira misericórdia, de caridade que existiam naquelas comunidades”, lê-se na carta pastoral.

O caminho sugerido pelos dois bispos é o de não reduzir a vivência da fé a uma atitude passiva e inativa perante o mundo externo, mas sim a de abraçar o mundo a partir do que se é. “Por vezes, quando visitamos as paróquias, ouvimos dizer que nós, católicos, não podemos fazer nada de bom porque vivemos em tempos difíceis: isto é o que muitos pensam e ficamos desolados por causa desta atitude. Todavia, a missão criativa não espera circunstâncias favoráveis ou mais fáceis: ela partilha a comunhão que vivemos entre nós ou que, por vezes, não vivemos, infelizmente”, dizem os prelados.

Os bispos insistem em convidar os fiéis a não se deixarem esmagar pelo sentimento de impotência e da perda da esperança. Ao mesmo tempo, pedem aos batizados que façam o bem a partir do pouco que têm. “Podemos lamentar-nos pelo facto de o conflito na Ucrânia ainda decorrer, pois pouco ou nada se pode fazer para ajudar a recuperar a paz. Porém, se nos voltarmos para Cristo, nascem iniciativas, mesmo que muito simples, mas profundas e duradouras. Não podemos resolver o problema dos refugiados, não podemos restabelecer a paz, mas podemos alcançar pessoas concretas e transmitir-lhes a nossa paz interior, se é que a temos”, referem os prelados. A atenção às necessidades não somente materiais, mas também espirituais das pessoas é indicada no documento que marca o início deste novo ano pastoral como dimensão essencial da vida comunitária.

De facto, diante do crescente número de católicos que se afastam da Igreja, os bispos convidam as comunidades a não ficarem somente centradas no problema dos números, mas a olhar para cada pessoa na sua unicidade, como uma alma que precisa de Deus e, como tal, a centrar-se na proximidade dos irmãos e irmãs na fé. O ponto de partida para que haja criatividade na missão, mesmo sendo poucos, é a relação com Jesus, no “aqui e agora” da vida de cada um, a partir das pessoas que ajudaram outros a encontrar Cristo, através dos sacramentos, da Igreja representada por cada paróquia, comunidade ou carisma a que cada um pertence.

Texto: Álvaro Pacheco