Religiosas e sacerdote tiram fotografia nos confins da Coreia do Sul. As montanhas visíveis na imagem são território da Coreia do Norte | Foto: DR

Apesar da triste e dramática realidade da península da Coreia, há quem não desista de sonhar, empenhando-se em alimentar a esperança de que o dia da reunificação vai chegar. Um destes “sonhadores” é o padre Pedro Han, missionário da Consolata sul-coreano, empenhado na Comissão de Reconciliação Nacional da Igreja Católica. A foto acima pode ser considerada um símbolo: nela vemos o padre Pedro Han com duas irmãs, com uma postura que parece envolver a paisagem circundante. Porém, o que à primeira vista parece ser o testemunho de um belo momento de fraternidade esconde, na verdade, uma mensagem muito profunda.

O que se contempla por detrás das irmãs e do missionário não são meros verdejantes locais de lazer, de brincadeiras e piqueniques, mas sim as montanhas estéreis de um dos países mais impenetráveis e misteriosos da terra: a Coreia do Norte. Naquelas expressões sorridentes, imortalizadas numa fotografia tirada nos confins da Coreia do Sul, está uma só coisa: o desejo da reconciliação da península coreana inteira, que desde o início dos anos 50 do século passado vive “cortada” em duas por causa de uma guerra congelada, que se teme poder reacender a qualquer momento.

Saber que o religioso e as duas irmãs retratadas na fotografia se encontram no confim da Coreia do Sul para participarem numa peregrinação pela paz não é um detalhe de pouca importância, mas representa uma das principais peças de um complicado puzzle do caminho em direção à união e pacificação em que a Igreja sul-coreana está empenhada em juntar desde há anos, mesmo com dificuldades, com momentos de avanço e, bruscamente, de recuo.

O padre Pedro Han é membro da Comissão de Reconciliação Nacional, nascida graças à participação dos institutos religiosos masculinos e às sociedades de vida apostólica. “A comissão, que trabalha em direta colaboração com a conferência episcopal, foi fundada em 2015, depois da experiência de sete organizações religiosas empenhadas em ajudar os refugiados norte-coreanos, que escaparam e chegaram ao Sul, enquanto ajudavam, na medida do possível, várias populações do Norte”, disse o missionário, em declarações ao jornal L’Osservatore Romano.

Uma das atividades fundamentais da comissão, que trabalha numa base diocesana e é formada por 15 comités de reconciliação, é a oração. É devido à missão deste organismo, que há já vários anos, às 21h00 de cada dia, em todas as igrejas se recita uma oração pela paz, seguida de um cântico mariano e do “Glória”. “A nossa comissão empenha-se em levar por diante um movimento constante de oração que envolve os líderes e os fiéis comuns. Com o nosso testemunho de fé, colocamos em evidência a necessidade da unidade e da reconciliação da nossa nação. Mais ainda: é forte a nossa colaboração com outras associações para partilhar informações essenciais e necessárias ao desenvolvimento dos nossos projetos”, referiu o padre Pedro Han. É possível comparar todo este trabalho da comissão e de toda a Igreja Coreana a um verdadeiro caminho quaresmal.

Peregrinação pela paz juntou religiosos na Coreia do Sul. Igreja deseja a reunificação da península da Coreia

Se olharmos para a foto acima, com irmãs religiosas sentadas no chão, pode vir ao de cima a sensação de cansaço, fadiga e provações. Diante dos olhos das religiosas, vislumbra-se o horizonte habitado pelos irmãos e irmãs separados, pelos quais elas e todos os cristãos do Sul estão dispostos a enfrentar perigos, derrotas e sofrimento, também no silêncio e no anonimato que a prudência requer e como cada deserto nos ensina. O padre Pedro Han está convencido de que a quaresma da Igreja coreana passa também pelo perdão recíproco dos males sofridos, de forma a eliminar completamente o ódio. “O caminho para a paz deve eliminar a ira de cada coração, seguindo o percurso da cruz de Jesus e pondo em prática os seus ensinamentos: aceitar o inimigo como irmão. No deserto quaresmal, que dura há mais de sete décadas, a comissão não deixa ninguém para trás, sobretudo os que conseguiram escapar do regime ditatorial do Norte, a quem, por exemplo, educamos para a unificação”, conclui o padre Pedro.