Funcionários em fábrica na China. Pequim tem-se envolvido na construção de infraestruturas, para ligar a China ao mundo | Foto: LUSA

No passado mês de março, o presidente chinês, Xi Jinping, foi a Moscovo reiterar a sua convicção de que o mundo está a assistir “a mudanças que nunca foram vistas nos últimos 100 anos”, acrescentando, ao lado do presidente russo Vladimir Putin – “Desta vez somos nós que as lideramos em conjunto”. Dias antes de proferir este discurso, o Irão e a Arábia Saudita restabeleceram relações diplomáticas, cortadas em 2016. Em abril, Pequim confirmou a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff como a líder do Novo Banco para o Desenvolvimento (NBD). O banco é uma criação dos denominados BRICS, um grupo de países formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e ao qual pretendem juntar-se a Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Turquia e Argélia.

O NBD é considerado uma das formas de Pequim de internacionalizar o yuan e colocar a moeda chinesa como uma alternativa ao dólar. Desde 2014 que Pequim tem desenvolvido o conceito de novas rotas da seda, um projeto de construção de infraestruturas como portos, ferrovias, estradas, oleodutos e aeroportos, que visam ligar a China a todo o mundo, dando-lhe acesso quer a matérias-primas quer a mercados onde vender os seus produtos.

Desocidentalização do mundo
Numa entrevista à revista francesa l’Express, Michel Duclos, antigo embaixador francês nas Nações Unidas, sustentou que assistimos a uma desocidentalização do poder e das relações internacionais. Esta vaga de fundo tem a ver não apenas com o poder económico crescente da China, mas também com as consequências desastrosas resultantes da invasão do Iraque, em 2003, e a crise económica e financeira mundial de 2008, causada pelos bancos norte-americanos.

Estes dois últimos acontecimentos fizeram renascer o sentimento anti-imperialista contra os Estados Unidos da América (EUA) e a Europa, e criaram o ambiente para o acolhimento das propostas chinesas da Iniciativa de Segurança Mundial. A China defende que a segurança de um país não se pode fazer em detrimento da segurança dos outros. Se esta afirmação parece ir contra as posições de Vladimir Putin, que há cerca de um ano invadiu a Ucrânia, elas são também um aviso aos aliados da NATO, que nas últimas décadas foram aumentando a sua zona de influência junto das fronteiras da Rússia.

Tensão crescente
A China foi um dos grandes beneficiários da ordem internacional construída pelos Estados Unidos da América. Porém, a chegada ao poder de Xi Jinping, em 2012, comprometeu esse ordenamento, com o reforço da influência da China na Ásia Oriental e o seu armamento. As recentes revelações dos EUA sobre as responsabilidades da China na proliferação da covid-19, as restrições e interdições ao uso da rede social chinesa TikTok, os embargos à tecnologia de ponta, ou o reforço das parcerias militares entre os Estados Unidos da América, a Austrália e o Japão são indícios de uma tensão crescente sobre quem determinará a (nova) ordem mundial.

Texto: Carlos Camponez