Carlos Liz - Investigador Colaborador do CECH da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

À medida que a sociedade portuguesa se vai diversificando, nomeadamente com a intensificação dos movimentos migratórios, crescem as interrogações sobre o modo como nos podemos situar em novas paisagens humanas. Partimos, demasiadas vezes, de um sentimento de proprietários territoriais, de membros titulares de uma cultura incumbente perante a qual todas as outras se devem curvar, ou, pelo menos, adaptar.

A estas dinâmicas de alargamento qualitativo e quantitativo da paisagem humana juntam-se as alterações demográficas internas, vividas no âmbito da população dominante. As interrogações dirigem-se, agora, para variáveis como a idade. Paradoxalmente não faltam manifestações do diferente, do que não é habitual, do que é saudado como criativo, do que é exemplo de inovação em quase todas as áreas da vida social e económica. Conceitos como disrupção, pensar fora da caixa, sair da zona de conforto, tornaram-se moda e quase um requisito de admissão e florescimento nas classes médias urbanas.
Mas, ao que parece, uma coisa são conceitos e suas formulações verbais e visuais expressivamente atraentes, outra são seres humanos de carne e osso, que “não faziam parte” do meu “mundo”, ou se faziam era em menor quantidade e com menos exuberância visual no espaço público.

O jogo entre a correção da distância e a incomodidade da proximidade precisa de outras regras, que vão para além das argutas ciências sociais ou das bem-intencionadas políticas públicas. Entramos no domínio da ética, no campo da reflexão filosófica acerca da natureza do humano e do lugar que ocupa na criação e desenvolvimento do mundo como um todo.

Do plano filosófico ao plano religioso vai um salto útil, que ajuda a pensar o tema deste artigo. É de Deus e da experiência íntima com Ele, que vem uma boa chave interpretativa para explicar a tensão criada perante o diferente. E é em Deus, na compreensão da história da salvação, que se podem encontrar outras regras para inclinar o jogo para o lado de uma proximidade bem acomodada com o acolhimento convicto do outro, do que não é o mesmo.