“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” – Esta célebre frase de Luís de Camões é sempre atual. O mundo está em contínua mutação. As vontades vão-se alterando com o tempo, as necessidades vão-se transformando e o mundo vai evoluindo. As mutações são tantas e variadas, que a previsão de possíveis acontecimentos é totalmente hipotética.

Podemos comparar o dia a dia com o mar, uma metáfora adequada ao desenrolar da vida. O mar tanto pode ser sereno como agitado, azul claro como escuro, doce como amargo, vida como morte. Se por um lado podemos afirmar que o mar é a maior maternidade do planeta, por outro, também é o maior cemitério do mundo! O Papa Francisco afirmou que o Mar Mediterrâneo se tornou o “maior cemitério da Europa”, por ser uma das principais rotas para refugiados em busca de uma vida melhor, e que lá encontram a sua última morada.

A vida é composta de imprevistos estonteantes, que podem surpreender e alterar dramaticamente as nossas vidas. Quem de nós não experimentou mudanças radicais na vida, que são autênticos desafios, que obrigam a efetuar acrobacias de todo o género, a nível físico, psicológico, social e espiritual? Por exemplo, uma doença inesperada, um acidente grave, uma morte repentina, um divórcio, uma bancarrota, um terramoto, uma tempestade, um incêndio, uma pandemia, uma guerra… A lista poderia seguir até ao infinito. Quando somos presenteados com uma destas “cacetadas”, as quais aparecem de surpresa e sem “livro de instruções”, podemos ficar desorientados e até perder o rumo. Tenho um amigo que foi agora diagnosticado com uma doença degenerativa e progressiva, a qual anuncia uma grande transformação na sua vida.

Procuremos olhar para a Sagrada Escritura. No Evangelho de São Mateus 6, 24-34, Jesus diz – “Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir… Olhai para as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste sustenta-as… Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã”. No Evangelho de São Lucas 12, 6-7, diz Jesus – “Não se vendem cinco passarinhos por duas moedas? Contudo, nenhum deles é esquecido diante de Deus. Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados”. Estes textos são um convite para crescer na confiança no amor de Deus, na Divina Providência, a qual não deixa faltar o necessário para o nosso crescimento humano e espiritual. Deus vai permitindo diferentes desafios, que nos fazem caminhar e nos levam mais além.

Por vezes, encontramos caminhos que preferíamos não ter que atravessar, tempestades que desejaríamos evitar. A boa notícia que nos traz Jesus é que podemos atravessar montanhas e tempestades, mantendo a paz no coração. A paz verdadeira só nos pode vir de Deus, nasce da certeza do seu amor por nós, que Ele está sempre connosco e que nunca nos abandona. Como diz o salmista – “Ele guia-me por sendas direitas por amor do seu nome. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo”.

Todo o nosso caminhar tem um destino, e esse destino é o céu, ao qual chegaremos apenas com a morte, a passagem deste mundo para o outro. Os desafios que enfrentamos representam “pequenas mortes” na nossa vida que nos permitem crescer para Deus. A última e derradeira é aquela que nos colocará face a face com Jesus, junto dos anjos do céu, e trata-se do crescimento maior para Cristo. É tendo consciência desta caminhada que podemos perceber que no confronto com as “pequenas mortes”, a nossa vida ganha um rumo verdadeiro, para o céu. É só aí que toda a vida ganha sentido.

Texto: Simão Pedro, missionário da Consolata