Peregrinos na noite de 12 de agosto | Foto: Santuário de Fátima

Todas as pessoas desejam o mesmo e o acolhimento deve ser uma constante, demonstrou Joan-Enric Vives, arcebispo emérito de Urgel (Espanha), na noite de 12 de agosto, no Santuário de Fátima. “Todos os dias, homens, mulheres e crianças atravessam fronteiras em busca do mesmo que todos desejamos: paz, trabalho, segurança e um futuro melhor. E muitas vezes o que encontram é suspeita, rejeição ou indiferença. O ‘descarte’ de que falou o Papa Francisco. No entanto, o Evangelho convida-nos a algo diferente: a abrir as nossas portas, as nossas fronteiras e, sobretudo, os nossos corações, e a sermos hospitaleiros, pois todos nós fomos ou somos migrantes em terra estrangeira”, disse o arcebispo espanhol, que apelou à defesa dos direitos humanos dos migrantes.

“Devemos reconhecer o rosto de Cristo no migrante. E neste contexto, Nossa Senhora de Fátima não só intercede por nós, como também nos convida a empenharmo-nos ativamente na defesa dos direitos humanos dos migrantes: o direito de deixar o seu país por necessidade ou em busca de liberdade; o direito a ser tratado com dignidade em qualquer fronteira; o direito a fazer parte de uma sociedade que não exclui, mas acolhe e integra, e que promove a fraternidade.”

Perante uma assembleia constituída por muitos migrantes, Joan-Enric Vives pediu coerência. “Muitos de nós somos emigrantes ou filhos e netos de emigrantes. A história portuguesa está marcada por uma e longa história de emigração. Durante décadas, milhares partiram em busca de melhores condições de vida. Hoje, Portugal acolhe muitos que aqui chegam com os mesmos sonhos. Somos, pois, chamados à coerência histórica e evangélica”, disse o arcebispo espanhol, que destacou as oportunidades que resultam dos movimentos migratórios

“A emigração, os migrantes não são um problema: são um sinal dos tempos que exige uma leitura evangélica e uma resposta solidária. O Papa Francisco sintetizou a atitude cristã face à migração em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Estes são um verdadeiro programa pastoral, social, político e religioso. Acolher implica abrir as portas da comunidade e do coração; proteger significa garantir os direitos humanos e impedir abusos e exploração; promover é ajudar cada pessoa a desenvolver os seus talentos; integrar é reconhecer que a diversidade enriquece o tecido social e eclesial. Estes quatro verbos devem estar presentes na mente e no coração de todos nós, nos membros das instituições sociais e religiosas. As migrações são uma fonte de renovação comunitária e uma oportunidade de crescermos em humanidade, como um caminho de fraternidade.”

As palavras de Joan-Enric Vives foram proferidas na celebração da Palavra na noite de 12 de agosto, no Santuário de Fátima, no contexto da Peregrinação Nacional do Migrante e do Refugiado a Fátima. Além das palavras do arcebispo espanhol, a noite ficou marcada pela imagem do recinto de oração repleto de velas empunhadas por cerca de 60 mil peregrinos de diferentes pontos do mundo, muitos deles migrantes.