Álvaro Pacheco | Diretor da Fátima Missionária

Ao visitar recentemente uma colaboradora da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA na região de Montemor-o-Velho, ouvi o seu desabafo em relação a uma situação familiar bastante difícil. Dali, a conversa evoluiu para o estado do nosso país, também ele marcado por muitas dificuldades e desafios. No momento da despedida, e com o olhar carregado de tristeza, deixou sair mais um desabafo: “Isto está cada vez pior!”

Sempre tentei ser uma pessoa positiva, e continuo a esforçar-me por isso. Porém, nem sempre é fácil sê-lo. Muitos dos que conhecem a missão diversificada da comunidade dos Missionários da Consolata em Águas Santas sabem que há um grupo de voluntariado chamado “Solidários Missionários da Consolata”. Todos os domingos, este grupo prepara cerca de 100 kits de comida, acabada de ser confecionada, que depois é levada para algumas áreas do centro do Porto para distribuir entre os sem-abrigo.

Como grupo de voluntariado na área de intervenção social, os “Solidários Missionários da Consolata” fazem parte do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo do Porto (NPISA), juntamente com outras dezenas de associações, contribuindo para que este apoio seja diário.

No passado mês de junho, dois militantes neonazis atacaram duas voluntárias do Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA) quando distribuíam comida a sem-abrigo no Porto. Os responsáveis por este ato agrediram ainda um agente da PSP. Outro caso relatado por dois voluntários de outra associação revelou que uma pessoa lhes lançou água quente de um terceiro andar enquanto ajudavam um sem-abrigo que se encontrava no rés do chão do edifício. Em ambos os casos foi usada violência sobre pessoas cujo “crime” foi a bondade, o humanismo e a empatia que partilharam com pessoas desfavorecidas. Devido a estes atos, vários voluntários manifestaram medo e apreensão em relação a esta atividade em prol dos sem-abrigo, algo que, enquanto ser humano e cristão, considero profundamente injusto.

Convido os que agiram desta forma desumana, e aqueles que aprovam estes atos violentos, a fazerem a seguinte reflexão – E se fosse eu o sem-abrigo? E se fosse eu o imigrante sentado num barco de borracha superlotado, o injustiçado, a vítima de tráfico humano, a vítima de violência doméstica e/ou sexual, o assalariado que não consegue chegar ao fim do mês e pagar as contas todas e arrisca perder a casa? E se fosse eu a estar no lugar do outro?