Ilustração: David Oliveira | Texto: Teresa Carvalho

O dia chegou. Nélia e Pedro, com Joaninha a tiracolo, aperaltaram-se para receber Sarita.
Uma bebé de olhar observador, indefesa mas não assustada, passou do colo onde se tinha encaixado, para o colo de Nélia. Olharam-se nos olhos e, como que sabendo ter chegado ao fim de uma grande viagem, Sarita encostou a cabecinha ao peito de Nélia e fechou os olhinhos, tranquila.

Nélia e Pedro souberam logo que aquela menina especial vinha mudar as suas vidas e ensinaria grandes lições, que fariam deles pessoas diferentes!.
Sarita acordou.
À sua volta, um rostinho sorridente, acolhedor e vivaço a fazer-lhe festinhas. Era Joaninha, que recebeu de volta um sorriso lindo e uma espreguiçadela descontraída.
– Mãe, pai, venham! A Sarita acordou! – gritava Joaninha, sem se atrever a sair de junto do berço e de Sarita

De um salto, a família estava reunida, com o coração cheio, admirando cativada, aquela menina que os olhava sem medo, e que, com os dois bracinhos, afastava a roupa a pedir ajuda para se levantar, como que a dizer que agora lhes estava confiada. Confiada, para a ensinarem a andar – e também, a sair do chão: a voar! Sim, porque Sarita não tinha mãozinhas, mas no seu coraçãozinho, havia asas de tamanho gigante, a quererem expressar-se!

Joaninha andava num rodopio de novidade feliz, assumindo a responsabilidade de professora da sua brilhante aluna. Em cada descoberta, Sarita lançava-lhe um sorriso cúmplice de conquista, pedindo mais e mais.
Do colo para o chão, do chão para as cavalitas, do gatinhar ao levantar-se e dar passinhos, nada parava Sarita – e sempre, sempre, aquele olhinho vivo e encantado de quem descobre a vida por meios próprios, e se lança aos desafios sem reservas ou desistindo perante barreiras, num desenrolar de capacidades criadas especialmente para si. Sarita, não tem mãozinhas porque não precisa delas!… A substituí-las, tem, na alma, asas de voar e de elevar.

Enlevados, estão Nélia e Pedro. Cada conquista de Sarita representa para esta família, a lição, em primeiro plano, do milagre da vida e da bênção da diferença.
Sarita, agora com um ano e dois meses de vida, é o centro do universo dos três colos – colos que sabem acolher, mas que também sabem largar, sabendo que ninguém pode conter num colo, tanta força de viver de uma bebé que foi feita para voar até bem longe, precisando para tal, de estar sempre perto, ligada por laços tecidos com o coração!

Entretanto, enquanto Sarita lhes está confiada, aprendem a generosidade dos sorrisos encantados, das novas palavrinhas com tamanho de dicionário, dos bracinhos que envolvem o pescoço em abraços de ternura e que apontam afirmativamente para o presente que lhes é oferecido hoje, desenhando os contornos de um amor incondicional.

E cada manhã, os risinhos de Sarita ao acordar, reacendem a certeza de termos, cada um, as asas que nos podem levar até ao nosso lugar – um lugar, sempre, sempre especial!