O Papa esteve com cerca de 60 familiares de vítimas da explosão e, sem pressa, conversou com elas e abraçou-as, dando-lhes a sua bênção e oferecendo-lhes um rosário. Foto © Vatican Media

No seu último discurso no Líbano, Leão XIV garantiu que levaria o povo daquele país “no coração” e partilhou a esperança de, juntos, poderem “contagiar todo o Médio Oriente” com este “espírito de fraternidade e compromisso em prol da paz, mesmo aqueles que hoje se consideram inimigos”. No fim, lançou um desafio: “Escolhamos todos a paz como caminho, não apenas como meta!”.

O discurso foi proferido ao início da tarde de terça-feira, 2 de dezembro, já no aeroporto internacional Rafiq Hariri de Beirute, pouco antes da partida do voo papal de regresso a Roma. “É mais difícil partir do que chegar”, disse o Papa. “Estivemos juntos, e estar juntos, no Líbano, é contagiante: aqui encontrei um povo que não gosta do isolamento, mas do encontro”.

Leão agradeceu pelos dias passados com os libaneses e disse estar feliz por “realizar a vontade” do seu “amado predecessor, o Papa Francisco, que tanto teria desejado estar aqui”. E acrescentou: “Na verdade, ele está conosco, e acompanha-nos na companhia de outras testemunhas do Evangelho que nos esperam no abraço eterno de Deus: somos herdeiros do que eles acreditaram, da fé, da esperança e do amor que os animaram”.

O Papa partilhou ainda que a breve visita ao porto de Beirute, feita ao início da manhã, lhe “tocou o coração”. “Rezei por todas as vítimas e levo comigo a dor e a sede de verdade e justiça de tantas famílias e de um país inteiro”, assegurou.

“Sois fortes como os cedros… e carregados de frutos como as oliveiras”

A visita ao porto foi certamente um dos momentos mais fortes e emotivos desta primeira viagem apostólica internacional e não admira, por isso, que tenha merecido um destaque particular no discurso final de Leão XIV.

No local onde ocorreu a  explosão que, a 4 de agosto de 2020, fez mais de 200 vítimas mortais, o Papa depositou uma coroa de flores, acendeu uma vela e rezou alguns minutos em silêncio.

Em seguida, aproximou-se da zona onde estavam cerca de 60 pessoas segurando fotos dos seus familiares falecidos e, sem pressa, conversou com elas e abraçou-as, dando-lhes a sua bênção e oferecendo-lhes um rosário.

Cinco anos após a explosão, as famílias das vítimas, os feridos e um povo traumatizado pela tragédia ainda aguardam justiça.

Em fevereiro deste ano, após anos de suspensão, as investigações sobre as causas da tragédia foram finalmente retomadas, mas não foram conclusivas, devido a obstáculos e interferências de líderes políticos e funcionários do Estado, que se recusaram a comparecer para interrogatório.

Mais recentemente, o dia 4 de agosto foi declarado dia de luto nacional, uma rua recebeu o nome das vítimas e o local da explosão foi classificado como património histórico. E agora o abraço do Papa contribuiu também para apaziguar um pouco a dor sentida.

“Nestes poucos dias, encontrei muitos rostos e apertei muitas mãos, recebendo deste contacto físico e interior uma energia de esperança”, concluiu o Papa Leão,  no seu discurso final, ressaltando: “Sois fortes como os cedros, as árvores das vossas belas montanhas, e carregados de frutos como as oliveiras que crescem na planície, no sul e perto do mar”.

A seguir, lembrou ainda “todas as regiões do Líbano que não foi possível visitar: Trípoli e o norte, o Vale do Beca e o sul do país, que vive, de modo particular, numa situação de conflito e incerteza”. E terminou com “um sentido apelo: cessem os ataques e as hostilidades. Ninguém acredite mais que a luta armada traz algum benefício. As armas matam; a negociação, a mediação e o diálogo edificam”.

Texto redigido por Clara Raimundo/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.

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