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“Cada dólar empregue em gastos militares é um dólar a menos para satisfazer as necessidades básicas das pessoas e construir uma paz duradoura”, afirmou o arcebispo Gabriele Caccia, observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas na sua intervenção no âmbito da 80ª Assembleia Geral daquela organização. O arcebispo lembrou que em 2024 “os gastos com armas ultrapassaram os 2,7 mil biliões de dólares, enquanto continuam a faltar quatro mil biliões de dólares para financiar os objetivos de desenvolvimento sustentável”.

“A visão de um multilateralismo orientado para o bem comum contrasta com o atual contexto de aumento das despesas militares e redução dos compromissos com a ajuda oficial ao desenvolvimento”, acrescentou Gabriele Caccia, classificando de “verdadeiro paradoxo” o facto de “por cada dólar investido na paz, dois serem gastos na guerra”, ou seja, “os recursos destinados à vida continuam a ser superados pelos destinados à destruição”.

Para inverter a tendência, o representante da Santa Sé, citado pela Vatican News, reiterou a sua total confiança no multilateralismo, “o único caminho viável para o progresso”, e na ONU “que continua a representar um farol de esperança para o multilateralismo, num mundo cada vez mais dilacerado por conflitos e divisões, a instituição encarna a convicção de que o diálogo e a cooperação são os únicos caminhos duradouros para a paz e o desenvolvimento”.

Gabriele Caccia chamou ainda a atenção para o facto do desequilíbrio entre investimentos em armas “que destroem vidas e meios de subsistência” e aqueles que poderiam financiar “a saúde, a educação e sistemas alimentares” ser ainda mais gravoso por ser hoje acompanhado “pelo peso da dívida que sufoca especialmente os países menos desenvolvidos, os sem saída para o mar ou as pequenas ilhas, condenando-os assim a uma dependência estrutural”.

Esse “peso insustentável da dívida” coloca em perigo quer “a conquista do desenvolvimento integral para todos” quer “o princípio segundo o qual cada país deve ser tratado com igual respeito e como parceiro igualitário dentro da comunidade internacional”. Por isso, “é necessário perdoar” a dívida externa dos países mais pobres. Esse perdão “não é uma escolha de política económica, mas sim um imperativo moral” para repor “o sistema financeiro global” no caminho que deve ser o seu: “A busca do bem comum de toda a família humana.”

Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.