Em resposta ao plano proposto pela administração Trump para pôr fim ao conflito em Gaza, a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, emitiu esta quarta-feira, 1 de outubro, uma declaração em que defende que “o fornecimento de ajuda humanitária e o fim do genocídio de Israel em Gaza não podem ser condicionados, como prevê este plano, à aceitação ou não da proposta pelo Hamas”.
“Mais de 65 mil palestinianos foram confirmados como mortos; centenas de milhares ficaram feridos e os palestinianos em Gaza continuam a sofrer o impacto horrível do deslocamento, destruição e fome contínuos há quase dois anos. Esta catástrofe, arquitetada por Israel e possibilitada pelo apoio dos EUA, deve finalmente terminar, haja ou não um acordo”, insistiu a responsável pela organização de defesa dos direitos humanos, citada num comunicado enviado ao 7Margens.
Para Callamard, “a prioridade mais urgente é pôr fim ao genocídio de Israel em Gaza e libertar todos os reféns civis. Qualquer iniciativa que vise garantir uma paz duradoura deve basear-se no direito internacional, defender os direitos humanos de todas as pessoas nos Territórios Palestinianos Ocupados (TPO) e em Israel, e centrar-se no fim imediato da ocupação ilegal e do sistema de apartheid de Israel”.
Os primeiros passos devem ser, assim, um “cessar-fogo permanente”, o “levantamento incondicional do bloqueio ilegal de Israel para permitir o fornecimento seguro e sem obstáculos de ajuda humanitária”, e a “libertação incondicional dos reféns detidos pelo Hamas e outros grupos armados, bem como dos detidos ilegalmente por Israel”.
Agnés-Callamard considera, por isso, que “independentemente de as partes em conflito concordarem ou não com qualquer plano de paz, os Estados devem agir, e agir agora, para pôr fim ao genocídio, conseguir um cessar-fogo, garantir a libertação dos reféns e permitir o acesso sem entraves aos suprimentos humanitários”. Até porque, sublinha, “a experiência em todo o mundo, incluindo em Israel e nos Territórios Palestinianos Ocupados, demonstrou que a impunidade gera conflitos e mais atrocidades”.
Já na segunda-feira, 30 de setembro, a Amnistia Internacional havia lançado um apelo ao “cessar-fogo imediato e libertação urgente dos reféns”, alertando que a atual escalada militar de Israel em Gaza, em particular na cidade de Gaza, “não só está a ter consequências catastróficas para os palestinianos que lutam para sobreviver a uma fome provocada e à deslocação forçada, como também coloca ainda mais em risco a vida dos israelitas e de outras pessoas mantidas como reféns por grupos armados palestinianos”. Nesse comunicado, a organização detalhava alguns dos abusos físicos, sexuais e psicológicos que os reféns em cativeiro têm vindo a enfrentar.
“Cada momento de inação custa mais vidas e aprofunda os horrores que os civis enfrentam. Um cessar-fogo imediato não é apenas um imperativo moral, é uma responsabilidade global”, concluiu então secretária-geral da organização.
Papa Leão: proposta “realista”
Na terça-feira, 30, ao final do dia, o Papa Leão reagiu também à apresentação do plano, dizendo esperar que o Hamas aceite a proposta “realista” de paz apresentada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, apelando ao cessar-fogo no Médio Oriente.
“Esperemos que aceitem. Até ao momento, parece ser uma proposta realista. É importante, no entanto, que haja um cessar-fogo e a libertação dos reféns, mas há elementos que considero muito interessantes e espero que o Hamas aceite dentro do prazo estabelecido”, disse Leão XIV aos jornalistas que o esperavam à saída da residência pontifícia de Castel Gandolfo, nos arredores de Roma, de acordo com a Ecclesia.
À imagem das semanas anteriores, o Papa passou a sua “folga” semanal neste local, falando à imprensa antes de regressar ao Vaticano.
A proposta de Trump, anunciada na segunda-feira e que o 7Margens divulgou na íntegra, prevê um cessar-fogo imediato em Gaza, a retirada gradual do Exército israelita, a libertação total dos reféns em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinos e o fornecimento de ajuda humanitária através das Nações Unidas. O documento prevê ainda o desarmamento completo do Hamas e o estabelecimento de um governo de transição composto por tecnocratas palestinos e especialistas internacionais.
A proposta de Trump foi apoiada pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que rejeitou, contudo, a criação de um Estado da Palestina e a desmobilização de tropas de Israel “na maior parte” de Gaza.
A Santa Sé tem sido apologista de uma solução de dois Estados para Israel e a Palestina, com respeito pelo estatuto especial de Jerusalém, posição reiterada na Assembleia Geral da ONU, esta segunda-feira.
Leão XIV respondeu a uma pergunta sobre a mudança do nome do Departamento da Defesa para “Departamento de Guerra” nos EUA, seu país natal, e sobre as declarações do secretário de guerra norte-americano, Pete Hegseth, numa reunião com altas patentes. “Essa forma de falar é preocupante porque mostra sempre um aumento das tensões, essa mudança de vocabulário, de ministro da Defesa para ministro da Guerra. Esperamos que seja apenas uma forma de falar”, observou.
Ainda sobre a atualidade norte-americana, Leão XIV foi questionado sobre a atribuição, pelo cardeal Blaise Cupich, arcebispo de Chicago, de um prémio ao senador democrata Dick Durbin, que teve posições a favor da legalização do aborto. O caso motivou uma polémica, sobre a qual o 7Margens deu informação pormenorizada.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.








