Refugiados no Sudão | Foto © ACN/AIS

Desde abril de 2023, quando se iniciou a guerra civil no Sudão, combates e ataques já provocaram 12 milhões de deslocados (em cerca de 50 milhões de habitantes) e pelo menos 150 mil vítimas, numa das piores crises humanitárias do século XXI.

Ataques contra civis, deslocamentos em massa, agressões sexuais, deterioração da assistência no campo da saúde e colapso dos serviços básicos continuam a assolar o Sudão, um país marcado por graves violações dos direitos humanos.

“Em agosto de 2025, a região do Darfur, de modo particular, foi testemunha de uma onda generalizada de diversas formas de violações contra civis”, afirma o último relatório sobre a situação dos direitos humanos no Sudão, elaborado pelo Centro Africano de Estudos de Justiça e Paz, e citado pela agência Vatican News.

“Esses ataques — diz o relatório — causaram deslocamentos em massa; civis tiveram dificuldade de acesso a corredores seguros; enfrentaram também uma catástrofe sanitária, com um colapso quase total na assistência à saúde. A natureza de tais violações indica que são sistemáticas, ligadas à filiação étnica, política e geográfica. Sem uma intervenção eficaz, crimes de genocídio e crimes contra a humanidade tendem a se espalhar. As violações atuais não se limitam a assassinatos diretos, mas também incluem estratégias de fome, terror em massa, deslocamentos forçados e estupros sistemáticos”.

Nas últimas semanas, as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla inglesa), grupo paramilitar que trava uma sangrenta guerra civil contra o exército, intensificaram os ataques em Al-Fashir, a última grande cidade da região do Darfur ainda controlada pelo exército regular, deixando 260 mil pessoas cercadas e sitiadas, em condições desesperadas.

O agravamento dos combates obrigou cerca de 90% dos residentes do campo de refugiados de Abu Shouk, em Al-Fashir, capital do Darfur do Norte, a tentar fugir nas últimas duas semanas, noticiou a Vatican News. As RSF também começaram a construir um muro de 30 quilómetros em torno de Al-Fashir, tornando ainda mais desesperada a situação das cerca de 260 mil pessoas que permanecem na cidade. O campo de refugiados, que já chegou a abrigar 190 mil pessoas, foi repetidamente atingido por bombardeamentos que causaram inúmeras vítimas. No final de agosto, fontes relataram que um ataque das RSF havia matado mais de 40 pessoas e destruído quase todas as fontes de água.

No último mês de março, o exército regular conseguiu recuperar a capital, Cartum, sitiada e dividida em duas fações, há dois anos. Em abril, milicianos mataram mais de 1500 pessoas num ataque brutal ao campo de refugiados de Zamzam, no Darfur: um dos piores massacres desde o início da guerra, que levou mais de 500 mil pessoas a abandonar a região, rumo a Al-Fashir, onde é grande a escassez.

Fortes inundações no centro do país somaram-se à gravíssima crise humanitária vivida no país. As fortes chuvas e inundações repentinas dos últimos dias desalojaram cerca de quatro mil pessoas e destruíram 550 casas no estado de Al-Jazirah. Muitas famílias ainda necessitam urgentemente de abrigo e de outros tipos de ajuda básica, segundo as Nações Unidas.

Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.