Sem o apoio do Estado, “muita gente estava na pobreza” em Portugal, disse Eduardo Duque, doutor em sociologia e presbítero da arquidiocese de Braga, nesta quinta-feira, 28 de agosto, enquanto apresentava uma “radiografia” do território português aos participantes do Curso de Missiologia, que está a decorrer em Fátima, com o objetivo de formar missionários.
“Quarenta por cento das nossas famílias, se não tivessem o apoio do Estado, estavam na pobreza. Com o apoio do Estado, fica em 16.6 por cento. Ou seja, em Portugal, o Estado ajuda muito, muito, muito a erradicar a pobreza. As pessoas não têm esta noção, mas é verdade. A pobreza é um problema estrutural, mas o seu impacto é significativamente reduzido pela ação do Estado. Sem as pensões e os apoios sociais, quase metade da população portuguesa seria pobre. O Estado Social é absolutamente crucial para a coesão do país”, disse o conferencista, que alertou de seguida para as desigualdades do país.
“Portugal continua a ser um dos países mais desiguais da União Europeia. Há gente que recebe muito, mas a maior parte ganha pouco. O rendimento dos dez por cento dos mais ricos é nove vezes superior aos dez por cento mais pobres. Isto são números muito rigorosos do Instituto Nacional de Estatística, que faz um belíssimo trabalho em Portugal. Entre os mais ricos e os mais pobres há uma grandíssima diferença em Portugal”, afirmou o docente universitário. “Somos muito desiguais num país muito pequenino”, acrescentou.
Comunidade brasileira “tem animado verdadeiramente a Igreja de Braga”
Eduardo Duque está ao serviço na arquidiocese de Braga e falou aos formandos do Curso de Missiologia sobre o impacto da imigração na vida da Igreja. “Em Braga, por exemplo, temos neste momento uma comunidade muito grande brasileira. Tem sido uma coisa extraordinária. Tem animado verdadeiramente a Igreja de Braga. Tem rejuvenescido a Igreja de Braga. Eu, por exemplo, celebro a Eucaristia na Sé e aos domingos, às 18h00, temos a missa da Pastoral da Cultura. Grande parte das pessoas que lêem na missa é brasileira. Gente jovem. Se não fossem os brasileiros, nós às tantas deixávamos de ter jovens para ler. Já seria gente de idade.”
O orador sublinhou que quem considera que os imigrantes são um “peso, não sabe ler a realidade portuguesa”. E exemplificou – “Nós somos neste momento dez milhões e trezentas mil pessoas em Portugal. A correr bem, nós em 2050 vamos ser oito milhões e meio de pessoas. A correr mal, podemos ser cerca de seis milhões e meio”, apontou o docente, frisando que tal está a acontecer num “país já meio desertificado”, e onde as mulheres têm, em média, “1.4 filhos”. Eduardo Duque afirma que os imigrantes têm de ser vistos como uma “mais-valia” para a Igreja e para o país. “Devemos tratá-los com cuidado, amor e respeito”, apelou.








