Peças de artesanato produzidas em Belém. Foto © António Marujo/7Margens

São peças em madeira de oliveira, madrepérola, prata, bordados, terracota e cerâmica: entre este sábado, 28 de Junho, e o domingo, 6 de Julho, artesãos de Belém (Cisjordânia, Palestina) estarão na Feira Internacional de Artesanato, que decorre em Lisboa, para expor e vender peças feitas na Terra Santa.

Centenas de modelos de presépios, figuras de Jesus Menino e de Nossa Senhora, enfeites, santos, pendentes, animais ou brincos estarão disponíveis no pavilhão 2D56, como uma “oportunidade de conhecer um artesanato cheio de história e espiritualidade feito pela pequena comunidade cristã local”, como dizem os responsáveis.

Há praticamente dois anos que, na sequência do ataque do Hamas em Israel em 7 de Outubro de 2023, os palestinianos – muçulmanos ou cristãos – estão cercados, sem comida e bombardeados diariamente em Gaza e cerceados, presos, torturados e por vezes atacados e mortos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Se a situação dos palestinianos já era grave, a guerra conduzida por Israel contra os palestinianos só a agravou. Nicola Ghobar, que era guia turístico antes da guerra e agora assume a venda do artesanato em Lisboa (desde há vários anos que vem por altura do Natal, abrindo um espaço de venda na Basílica dos Mártires) explica que a guerra parou tudo.

“Belém significa ‘casa do pão’. Mas nós sentimo-nos abandonados, sem ajudas nem liberdade, numa cidade que ficou sem pão”, dizia ao 7Margens, falando do artesanato que permite minorar ligeiramente a situação de um pequeno grupo de cristãos de Belém. “Queremos viver e que nos deixem viver, queremos poder manter vivos os lugares santos e que os cristãos do mundo inteiro continuem a ser a água e o oxigénio da terra que viu nascer o príncipe da paz.”

Em Belém, muitas famílias cristãs vivem da produção e venda deste tipo de artesanato e do trabalho no sector do turismo. Sem turistas, não há nada para fazer nem peças para vender. As dificuldades por que têm passado os cristãos têm levado muitos a deixar a Palestina (e vários países do Médio Oriente). Em menos de 50 anos, o número de cristãos em Israel e na Palestina passou de vinte por cento para dois por cento – são agora uns 130/140 mil em nove milhões de habitantes; em Belém, a população cristã era, em 1948 (data da fundação do Estado de Israel) oitenta por cento cristã; hoje, é menos de vinte por cento.

Em 2018, Nicola dizia ao 7Margens que, se pudesse falar com padres, agentes de viagens ou guias que acompanham peregrinações, dir-lhes-ia: “Desejaria que ficassem uma noite a dormir em Belém e visitassem uma das famílias que trabalham a fazer artesanato, pessoas locais. E que não fizessem apenas o caminho hotel–jantar–visitas. E há muitos mosteiros que os peregrinos não chegam a conhecer, há o campo dos pastores, a gruta do leite… Têm de conhecer um pouco mais”. E aos peregrinos, diz-lhes sempre: “A vossa presença é muito importante, mas têm de ficar e conviver um pouco mais com os cristãos, especialmente na cidade de Belém.”

Há quase cinco anos, o 7Margens publicou um pequeno vídeo onde se podem ver algumas das peças que estarão à venda na Feira de Artesanato.

 

Texto redigido por António Marujo/jornal 7Margens, ao abrigo de uma parceria com a Fátima Missionária.