O Papa recebeu o rei Carlos III e a sua esposa Camila na Casa Santa Marta. Foto © Vatican Media

Depois de ter surgido, de surpresa, na Praça de São Pedro, durante a celebração da missa do Jubileu dos Doentes, no passado domingo, Francisco voltou a surpreender esta quarta-feira, 9 de abril, ao receber o rei Carlos III e a rainha Camilla na Casa Santa Marta. Isto depois de ter telefonado para o seu esmoleiro, o cardeal Krajewski, que se encontra em missão na Ucrânia, e de ter voltado a ligar para o pároco de Gaza, como fazia diariamente antes de o seu estado de saúde se agravar.

Os reis britânicos foram recebidos em audiência privada num dia particularmente significativo para a sua família, em que assinalavam o vigésimo aniversário de casamento e os quatro anos da morte de Filipe de Edimburgo.

“Durante o encontro, o Papa teve a oportunidade de expressar os seus votos a Suas Majestades por ocasião do aniversário de seu casamento e retribuiu a Sua Majestade os votos de uma rápida recuperação da sua saúde”, informa o boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, numa referência às condições de saúde de Carlos III, que foi internado no final de março devido a efeitos colaterais do tratamento do cancro que lhe foi diagnosticado há um ano.

O Buckingham Palace havia anunciado um encontro oficial com o Papa no início de março, na altura em que Francisco se encontrava internado há alguns dias com pneumonia bilateral, adiantando que a primeira etapa da visita dos reis a Itália seria no Vaticano, para celebrar o Jubileu com o Papa. Uma nota posterior, datada de 24 de março, comunicou que o rei Carlos III e a esposa, afinal, não teriam um encontro com Francisco devido às exigências da sua convalescença.

No entanto, ao final da da tarde de quarta-feira, o Vaticano anunciava que o encontro havia mesmo podido realizar-se e, já esta quinta-feira, a Família Real partilhava na sua conta de X a fotografia que registava essa “ocasião especial”.

Recorde-se que Carlos III, além de ser o monarca do Reino Unido, é também o chefe da Igreja Anglicana. Em 2019, na véspera da canonização do cardeal John Henry Newman, o primeiro britânico a ser proclamado santo em mais de quarenta anos, o então príncipe de Gales assinou um artigo no L’Osservatore Romano referindo-se ao acontecimento como um “motivo de celebração não apenas no Reino Unido e não apenas para os católicos, mas também para todos aqueles que prezam os valores que o inspiraram”. Carlos participou depois da cerimónia, no Vaticano, a 13 de outubro de 2019, no final da qual cumprimentou o Papa Francisco. Os dois também tinham estado juntos a 4 de abril de 2017, durante uma visita de Carlos ao Vaticano.

As crianças e jovens de Gaza começaram a gritar ‘Viva o Papa!’

Depois de, na terça-feira, a Sala de Imprensa do Vaticano ter divulgado que a situação de saúde do Papa é “estável com as pequenas melhoras notadas no domingo na parte motora, respiratória e em relação à voz” e os mais recentes exames clínicos revelavam “um quadro estável”, o Vatican News dava conta de que Francisco voltara a telefonar para o pároco de Gaza.

“O Papa ligou, cumprimentou, perguntou como íamos, como estavam as pessoas”, relatou o padre Gabriel Romanelli. “Quando ele telefonou, estávamos à porta da casa paroquial, dentro do complexo. As crianças e os jovens começaram a gritar ‘Viva o Papa!’, em árabe e em italiano”, continuou. “Ele enviou a sua benção, a sua oração. Foi um telefonema curto, mas sincero, muito apreciado. Dissemos-lhe que estávamos muito felizes por tê-lo visto no domingo no Angelus e por ter ouvido o seu apelo pela paz mais uma vez. A situação é realmente terrível em toda a Faixa de Gaza, continua o religioso, então realmente apreciamos a sua proximidade, a sua oração e a sua preocupação por todos.”

O pároco confirmou que as condições em que vive a população da Faixa de Gaza são “inimagináveis”, tal como o Papa as definiu no texto do Angelus divulgado no domingo, 6 de abril. Apesar de a comunidade cristã se encontrar bem, “graças a Deus e à ajuda constante do Patriarcado Latino de Jerusalém”, a situação é cada vez mais difícil. “Juntamente com os nossos 500 refugiados e os nossos vizinhos muçulmanos do bairro de Zeitoun, estamos bem por enquanto, embora tudo comece a faltar. Noutros bairros, tudo está já a faltar: comida, água; a crise já existia antes da guerra, imaginem agora, depois de um ano e meio de guerra. A emergência de comida, água e medicamentos é extremamente urgente em toda a Faixa de Gaza. Gaza é uma prisão, tornou-se uma gaiola, uma grande gaiola”, lamentou. Mas explicou que a comunidade não baixa os braços: “Fazemos o bem às pessoas, dentro do possível, às centenas de refugiados, às milhares de famílias de civis muçulmanos que estão ao nosso redor. Ajudamos a todos, cristãos e não cristãos, tentamos realmente ser um instrumento de paz para todos”.

“Ele queria saber como estava a correr a missão na Ucrânia…”

Já nesta quarta-feira, era a vez de o cardeal Konrad Krajewski, que se encontra na Ucrânia para entregar quatro ambulâncias doadas pelo Papa e manifestar a sua proximidade às populações afetadas pela guerra, partilhar com o Vatican News um telefonema surpresa de Francisco.

O esmoleiro do Papa recebeu a chamada no final de uma manhã movimentada em Zaporizhzhia, durante a qual distribuiu ajuda alimentar, e entregou medicamentos, além das quatro ambulâncias. “Ele queria saber como estava a correr a missão na Ucrânia. Disse-me para cumprimentar a todos e deu a sua benção. Eu disse-lhe que estava muito frio e ele, que estava bem humorado, acrescentou: ‘Sabes como aquecer-te!’”, revelou Krajewski.

Também para o esmoleiro apostólico foi importante este incentivo, depois de ter visto uma fila de pessoas carentes que esperavam desde as 5 da manhã pela distribuição de alimentos que começou quatro horas depois, o que comprovou, uma vez mais, as grandes dificuldades vividas pela população local.

“Nos olhos daquelas pessoas vi esperança, amor e apesar do frio agradeceram-nos calorosamente. Elas esperam que todo este desastre acabe rapidamente”, contou Krajewski, durante aquela que é já a sua décima missão na Ucrânia após a invasão russa. Quanto às ambulâncias, uma delas conduzida desde Itália pelo próprio cardeal, foram entregues aos responsáveis pela saúde local de Zaporizhzhia. “Removemos as matrículas do Vaticano. Eles ficaram surpreendidos com o facto de estarem bem equipadas e partiram para os lugares onde há mais necessidade”.

Konrad Krajewski sublinhou a grande contribuição dada por várias estruturas na recolha de medicamentos destinados à Ucrânia. “Os remédios”, explicou, “foram arrecadados principalmente em Nápoles, onde, além da tradição do café suspenso [um café pago antecipadamente como um ato anónimo de caridade], há também a dos remédios suspensos em cerca de cem farmácias. Foi uma arrecadação no valor de cerca de duzentos mil euros”. E na Ucrânia os medicamentos “são uma grande ajuda”, disse ainda o purpurado, acrescentando que muitos também foram oferecidos gratuitamente pela Farmácia Vaticana e pelo Hospital Gemelli, numa “grande onda de generosidade e solidariedade para com o martirizado povo ucraniano”.

Texto redigido por Clara Raimundo/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.