O tempo pascal, formado pelos 50 dias que vão da Páscoa ao Pentecostes, recorda vários elementos da espiritualidade do Evangelho, os quais são parte da essência de Deus – fidelidade, empatia e amor. Como dizia alguém, “Deus, na Sua infinita solidão, decidiu criar um parceiro para uma relação de amor: esse parceiro chama-se ser humano, um ser que lhe é muito querido e semelhante”. Eis então que Deus, olhando para o modo como o seu parceiro se comportou ao longo do início dos tempos, decidiu visitá-lo, mostrando ser fiel à promessa que lhe tinha feito no Antigo Testamento.
Em Cristo, Deus fez-se um ser humano, sem deixar de ser divino, para nos recordar a nossa origem e essência: somos de Deus, mas somente na medida em que somos uns dos outros e uns para os outros. Daí que Cristo, assumindo a nossa humanidade, recordou o ser humano da necessidade de se comportar como tal, isto é, como ser ‘divino’. Por isso, é somente no amor, vivido ao estilo de Jesus, centrado no valor da empatia, que podemos alcançar o potencial da nossa essência. Por outras palavras, mais do que simpáticos, devemos ser empáticos. Colocar-se no lugar ou na ‘pele do outro’ transforma radicalmente a nossa forma de ver, de entender e de nos relacionarmos com o próximo.
As doenças que mais afetam o ser humano são, precisamente, as que apagam a presença e a força da empatia. Entre as palavras mais famosas de Jesus que demonstram a sua empatia para com cada um de nós estão as seguintes: “A mim o fizestes”! Como seria diferente o nosso mundo se os seres humanos, investindo primeiramente no que nos une e não no que nos distingue, insistissem na necessidade de se juntarem e esforçarem na construção do bem comum, valorizando as diferenças como participação no poder criativo de Deus!
Para os cristãos, o mandamento novo do amor que Cristo deixou é o mesmo que se deve partilhar com quem está à volta: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Acredito firmemente que um dos aspetos mais importantes da missão que Cristo deixou em herança é o de ressuscitar a empatia que, por vezes, morre em nós, na sociedade que nos rodeia, e na falta de vontade em nos convertermos, enquanto exigimos a conversão dos outros. Como canta o músico rapper Valete, “o mundo muda a cada gesto teu”.