Tathy nasceu num país pobre, muito pobre. Sem meios de sobrevivência, a mãe viu-se forçada a decidir: procurar outras oportunidades, deixando a sua Tathy com dez anos confiada à avó. Levou consigo Guy, o mais frágil, de três anitos. Sabia quanto Tathy era determinada e capaz. Um dia, teria condições para levar Tathy.
Explicaram a Tathy, de muitas formas, por que não podia acompanhar a mãe e Guy. Tentava acreditar nelas, mas não entendia. Como se sentia abandonada! Um “atrapalho” deixado para trás. E, pior, como estaria Guy, sem a ter a ela para brincar, proteger, ensinar, para adormecerem de mãozinhas dadas? Como ia ela preencher o vazio deixado pelo irmãozito?
Quatro anos depois, a avó não resistiu a uma doença fatal. Tathy perdeu a sua última fonte de segurança. Foi assim vulnerável, dorida, com medos, que aos 14 anos Tathy se reuniu à mãe e ao irmão. Ele estava tão crescido. Já não precisava dela para adormecer, para brincar. Tathy não sabia o seu lugar, nem o que esperavam de si, nem mesmo a língua nova em que o seu maninho e todos comunicavam. Quando ficaria tudo no lugar certo?!
Não teve tempo de se adaptar à nova realidade porque a mãe confiou-a aos cuidados de uma família amiga, por falta de condições. A vida também tinha sido dura para ela e para Guy e saber que Tathy era cuidada e amada pela sua mãe, apaziguava-lhe as angústias. Por isso, não a trouxera antes. A confiança de Tathy na mãe esmoreceu totalmente com esta nova separação. Como podia ela não ser capaz de os manter unidos? Ou seria a ela que a mãe não queria? As dúvidas cresciam e não tinham resposta.
Tathy cresceu. A única pessoa para quem ela sente ser importante e que dá sentido à sua história, é o seu Guy. Precisa poupá-lo ao pior: as separações. Tudo menos isso! Mas, hoje, quando tem de decidir o seu projeto futuro, confronta-se com o pior dos seus dilemas: fazer o curso que sonha, obrigando-a a viajar para outro país, sujeitando o seu irmão a mais uma separação entre os dois, ou permanecer junto a Guy e contentar-se com “qualquer coisa?”
Com sentimentos contraditórios, decide seguir o seu projeto, na esperança de que a sua decisão possa ser também alavanca para novas oportunidades para o seu irmãozito. Só neste momento Tathy percebe o dilema da mãe, há muitos anos atrás, e estabelece um novo tempo de paz consigo, com a sua mãe e com a sua história. Este novo entendimento dá-lhe asas para construir com mais confiança uma história sem revoltas e sem culpas.
Entendeu então que o amor tem muitas formas de expressão. A separação do passado não foi sinal de rejeição, mas de esperança e confiança de que, juntos, cada um no seu lugar, construiriam o bocadinho de chão que dá segurança a todos. Percebendo finalmente que nunca deixou de ser amada, mesmo com a separação a impor-se, Tathy está pronta para acreditar no seu valor e escrever o seu legado na História que não é só dela – agora com cores de confiança, de esperança e da certeza de que ela é fonte de oportunidades, num novo contexto já iniciado e possibilitado pela sua mãe. A mãe, afinal, não falhara e ela também não falhará.