“Temos de enfrentar a verdade simples de que, para proteger a América como uma terra que acolhe imigrantes, devemos primeiro proteger a fronteira e protegê-la agora”, disse Biden esta terça-feira. Foto: Direitos reservados

Um conjunto de medidas que ignoram a atual lei de asilo dos Estados Unidos da América (EUA) e que causarão danos humanos consideráveis. Este é o entendimento de vários líderes católicos acerca do anúncio feito pelo presidente norte-americano, Joe Biden na última terça-feira, dia 4 de junho, em que comunicou o bloqueio dos pedidos de asilo na fronteira sul do país, procurando dissuadir as travessias ilegais da mesma.

“Estamos profundamente perturbados pelas ações executivas de Biden, e apelamos para que se inverta o curso das mesmas, voltando a administração norte-americana a comprometer-se com políticas que respeitem a vida humana e a dignidade dos migrantes, tanto dentro como fora das nossas fronteiras”, afirmou o bispo Mark Seitz de El Paso, presidente da Comissão de Migração da Conferência Episcopal dos EUA, citado pelo Crux.

Em causa estão as declarações proferidas por Joe Biden na passada terça-feira, 4, anunciando essencialmente um bloqueio dos pedidos de asilo de imigrantes na fronteira sul dos EUA com o objetivo de dissuadir as entradas ilegais em território norte-americano. “Temos de enfrentar a verdade simples de que, para proteger a América como uma terra que acolhe imigrantes, devemos primeiro proteger a fronteira e protegê-la agora”, referiu Biden. “A verdade é que existe uma crise mundial de migrantes e, se os Estados Unidos não protegerem a sua fronteira, não há limite para o número de pessoas que podem tentar vir para cá, porque não há lugar melhor no planeta do que os Estados Unidos da América”, referiu.

Curiosamente, estas medidas são anunciadas numa altura em que o número de entradas de migrantes na fronteira sul dos Estados Unidos diminuiu. Após um recorde de 301.980 entradas em dezembro de 2023, os totais mensais de janeiro a abril não ultrapassaram 190.000, de acordo com dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.

“Como defensores da vida e da dignidade humanas, que consideramos sagradas e invioláveis desde o momento da conceção, não podemos aceitar condições injustas no direito de migrar para aqueles que fogem de situações de risco de vida”, referiu El Paso. “Preocupamo-nos especialmente com aqueles que são obrigados por estas políticas a atravessar terrenos mais traiçoeiros, pondo ainda mais em perigo as suas vidas e as vidas dos agentes da Patrulha de Fronteira”, acrescentou.

El Paso mencionou ainda que a Conferência Episcopal dos EUA comunga das preocupações dos que estão apreensivos com a entrada no país de gangues violentos, traficantes de droga e traficantes de seres humanos. No entanto, argumentou que este tipo de medidas só vai dar poder e encorajar esses atores criminosos, e colocar os migrantes em maior risco.

“Hoje, o presidente Biden emitiu um regulamento que reduzirá a capacidade de certas pessoas de obter asilo”, disse Norma Pimentel, diretora executiva da Catholic Charities of the Rio Grande Valley, no Texas. “Embora o regulamento não afete todas as pessoas que atravessam a nossa fronteira – isenta os requerentes nos portos de entrada – terá graves consequências humanas e limitará grandemente o acesso de pessoas vulneráveis à proteção”, advertiu. “Esta ação da Administração, que se limita à aplicação da lei, entristece-me, mas é também uma consequência direta de anos de inação bipartidária do Congresso. O Congresso tem de atuar,” apelou Pimentel. “Como os bispos têm dito há muito tempo – temos de aprovar uma reforma abrangente da imigração. Através de uma reforma legislativa, podemos conseguir uma mudança significativa que defenda os nossos valores e também reforce a nossa segurança”, comentou.

O arcebispo Gustavo Garciá-Siller, de San Antonio, Texas, afirmou também estar desapontado com estas ações. “Embora reconhecendo a quase impossibilidade de aprovar uma reforma abrangente e significativa da imigração antes das eleições de novembro, os bispos dos EUA continuam a pedir soluções de bom senso que procurem abordar de forma realista as situações daqueles que tentar entrar neste país, incluindo trabalhar com outros países nas causas profundas do êxodo em massa do seu povo”, afirmou García-Siller em comunicado.

Dylan Corbett, o diretor executivo do ministério de migrantes do Hope Border Institute em El Paso, Texas, disse ainda que estas medidas são um “verdadeiro retrocesso no compromisso da nossa nação com os direitos humanos e proteções de asilo, bem como com o processo humano e ordenado na fronteira”. Assim como Anna Gallagher, diretora executiva da Rede Católica de Imigração Legal que afirmou, entretanto, num comunicado, que estas políticas são “perigosas, imorais e ilegais”.

Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.