A prática religiosa na Coreia do Norte é proibida. Só os estrangeiros podem professar a sua fé ainda que de forma restrita | Foto: Lusa

O coração das Irmãs Beneditinas de Tutzing, ramo feminino dos beneditinos de Santa Otília, congregação fundada em 1885 na Alemanha pelo monge beneditino Andreas Amrhein, continua a bater forte pela Coreia do Norte, o país onde a missão desta congregação na Ásia teve início. Seguem a “Regra Beneditina”, assente no carisma monástico e missionário.

Atualmente, esta congregação é orientada pela irmã Maoro Jun Seok Sye, sul-coreana, e conta com 130 comunidades e 1300 religiosas espalhadas por quatro continentes. O convite para darem início à sua missão na Coreia partiu do bispo beneditino Bonifácio Sauer, abade do mosteiro de Tokwon, no sul da Coreia: o objetivo era trabalharem com meninas e jovens a nível social, educativo e pastoral, já que, segundo as regras confucianas, só as mulheres podiam acompanhar as jovens. As primeiras quatro irmãs alemãs chegaram a 21 de novembro de 1925, após uma viagem de 48 dias de barco. Um mês depois, tinham já uma jovem coreana que queria entrar na congregação. As irmãs começaram a trabalhar como professoras numa escola para mais de 400 crianças pobres.

Depois de viverem os primeiros anos numa habitação modesta, as irmãs mudaram-se para o convento da Imaculada Conceição, construído em Wonsan, com ajuda de benfeitores chineses. Abriram um posto de saúde para curar doentes com ervas e medicamentos. Em 1927, tinham já 16 coreanas que entraram na comunidade como postulantes. Visitavam aldeias, atraindo muita gente com o seu carisma. Porém, tudo mudou a partir de 1945. Com influência da União Soviética, o governo do Norte começou uma política comunista radical, que incluía a perseguição religiosa. O mosteiro de Wonsan foi confiscado e fechado. Expulsas, deslocadas e malvistas, as irmãs, em vez de fugirem, decidiram ficar com as crianças.

As irmãs coreanas foram obrigadas a dispersar, enquanto as alemãs foram colocadas no campo de concentração de Oksadok, onde receberam tratamento desumano. Ficaram lá até 19 de novembro de 1953, após a conclusão da guerra das Coreias, sendo depois 18 delas repatriadas, em 1954. Porém, após recuperarem a saúde, dez delas regressaram à Coreia, desta vez para sul da península. Quanto às irmãs coreanas, conseguiram encontrar refúgio em Pusan, cidade sul-coreana. Mais tarde, sem saber do destino das irmãs de Wonsan, a casa-mãe de Tutzing enviou mais irmãs para a cidade sul-coreana de Taegu, em 1951. Entretanto, com o crescimento desta nova comunidade, a congregação rumou para Seul, capital sul-coreana.

“A nossa vida religiosa é entregar a vida a Cristo, guiadas pelo Espírito Santo. A nossa vida é render-se ao amor de Deus, como o fizeram as nossas irmãs pioneiras e mártires: uma vida feita de oração e Evangelho, para dar glória a Cristo”, refere a irmã Maoro Jun Seok Sye, recordando que, atualmente, as irmãs Beneditinas de Tutzing, na Coreia do Sul, são cerca de 450.

Esta família religiosa mantém a Coreia do Norte bem presente, como explica a madre-geral. “Todas as tardes, com todos os fiéis coreanos, recitamos um Pai-Nosso e uma Ave-Maria pela missão na Coreia do Norte, entregando a Deus o passado, o presente e o futuro. As irmãs da nossa congregação, espalhadas pelo mundo, rezam com uma intenção especial pela península coreana no dia 13 de cada mês. Através dos canais possíveis, enviamos ajuda humanitária ao Norte. Ao mesmo tempo, acolhemos e ajudamos os refugiados que escaparam do Norte, ajudando na inserção das crianças e adultos na nossa sociedade sul-coreana”.

Texto: Álvaro Pacheco